31.3.05

privilégios de ecrã

Bom, bom, era mudar de wallpaper consoante os humores do dia.

asas

As asas feitas de prata de chocolate que me deixaste à cabeceira ofereceram-me o primeiro sorriso da manhã.
Continuo a acreditar em anjos.

30.3.05

eyes wide shut

Deixar-me surpreender. Sem medos. De olhos bem abertos para um dia-a-dia que pode ser tudo o que eu quiser e onde a rotina só entra quando os meus olhos teimam em permanecer fechados.

25.3.05

raízes

Nos próximos dias vou estar aqui...

Serpa, Rua dos Fidalgos (é a primeira porta à esquerda, mesmo em frente à barbearia)

...e prometo que vou tentar regressar com um destes senhores na mala!

cenas

Pronto... confesso... tive um ataque de 'gaijice' aguda e sou a feliz possuidora de riscas tricolores pelo cabelo fora!
Este ano, mudar de visual é o mais aproximado de ressurreição que consigo tirar da cartola... and it's a start!

P.S. - O piercing no nariz ficou outra vez adiado, para gáudio de um senhor que eu cá sei...

24.3.05

pequenos prazeres

- o cheiro da pele no verão
- o ruído do café a subir numa Bialetti
- andar descalça
- a maciez dos lençóis nas minhas pernas nuas
- abrir um livro pela primeira vez
- deixar a areia da praia escoar-se devagarinho pelas mãos
- perder o olhar numa lareira acesa
- comer melancia
- encher os pulmões numa cidade desconhecida
...

23.3.05

22.3.05

elixir matinal

Dias úteis
às vezes pretextos fúteis
pra encontrar felicidades
no percurso de um só dia
Dias úteis
são tão frágeis, as verdades
que se rompem com a aurora
quem as não remendaria?
Dias úteis
mesmo se a dor nos fizer frente
a alegria é de repente
transparente
quem a não receberia?
Mesmo por pretextos fúteis
a alegria é o que nos torna
os dias úteis
Dias raros
aqueles que por amparos
do bom senso e da imprudência
fazem os prazeres do dia
Dias raros
como os ares, Rarefeitos
amores mais do que perfeitos
quem os recomendaria?
Dias raros
em que os mais dados às rotinas
ouvem sinos, seguem sinas
cristalinas
quem as não perseguiria?
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
a alegria é o que nos torna
os dias úteis
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
por motivos talvez claros

Pela voz da Manuela Azevedo a poesia do Sérgio, um lenço azul forte, um sorriso e as tuas palavras.

20.3.05

quando é que se cumpre uma vida?

(inquietação metafísica depois de Mar Adentro e Million Dollar Baby em menos de 24 horas... and still overwhelmed)

o deus das pequenas coisas...

...resolveu entrar de mansinho e deixar-se ficar.
O filme de ontem à noite: imenso na crueza com que se perspectiva a vida.
O choro guardado aí dentro que deixaste vir.
As horas que estivémos no tapete da sala a conversar sobre as nossas vidas, sem rodeios, sem defesas, com a sinceridade boa de quem se dá a conhecer e nem repara que o chá já está frio.

18.3.05

Spice Imperial

Fiquei na dúvida se o devia espalhar pelas minhas gavetas de roupa ou deixá-lo ao acaso lá por casa, com sabor a todas as viagens que ainda não fiz: canela, cravinho, baunilha e laranja numa chávena quente de imagens.
Recomendo!

because it's Friday!!!

Ladeira da preguiça
letra e música: Gilberto Gil (1971)
A voz, essa só mesmo a da Elis!

Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça

Preguiça que eu tive sempre
De escrever para a família
E de mandar contar pra casa
Que esse mundo é uma maravilha
E pra saber se a menina já conta as estrelas
E sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino já canta cantigas
E já não bota mais a mão na barguilha
E pra falar do mundo, falar uma besteira
Formenteira é uma ilha
Onde se chega de barco, mãe
Que nem lá
Na Ilha do Medo
Que nem lá
Na Ilha do Frade
Que nem lá
Na Ilha de Maré
Que nem lá
Salina das Margaridas

Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça

Ela não é de hoje
Ela é desde quando
Se amarrava cachorro com linguiça

17.3.05

crepuscular

dive for dreams
or a slogan may topple you
(trees are their roots
and wind is wind)

trust your heart
if the seas catch fire
(and live by love
though the stars walk backward)

honour the past
but welcome the future
(and dance your death
away at the wedding)

never mind a world
with its villains or heroes
(for god likes girls
and tomorrow and the earth)

E. E. Cummings

16.3.05

...moi non plus

Tu étais la condition sine qua non de ma raison.

Serge Gainsbourg

15.3.05

here comes the sun

Voltei à terra. Para o melhor e para o pior, com a certeza de que o sofrimento me molda o gesto e o olhar.
Andei daqui para ali, para acolá, acreditei na verdade do amor, investi, resisti, insisti? Quem sabe...
Sinto-me profundamente cansada de estar triste e sem norte.
Hoje acordei com sol na janela do meu quarto. Arranquei-me devagarinho da cama e decidi viver.

10.3.05

tiptoeing

baixinho, quase em sussurro, pela vida fora...
há dias em que me sinto bem assim,
há outros em que me apetece desistir.
um dia depois do outro_ um dia depois do outro_um dia depois do outro_
on and on and on and on and on...

8.3.05

terra dos sonhos

se contar até 10 muito devagarinho desaparece a irritação...
se a primeira palavra que escrever neste papel começar por P é porque estou perdida...
se subir as escadas antes do elevador chegar o dia vai correr bem...
se passarem duas músicas do Joshua Tree na rádio arranjo bilhetes para o concerto...
se não tocar em chocolates até ao final do ano ela vai ficar boa...
se fechar os olhos com muita força a dor desaparece...
se na terra dos sonhos nos voltarmos a cruzar, o feitiço quebra-se?
...

7.3.05

detesto domingos

Acordo sempre com a sensação de que estou a começar o fim-de-semana... e é mentira.
A leitura do Expresso já vai a meio e consequentemente, sobra-me para este dia o pior do pior...
Não vale a pena comentar a qualidade dos programas de televisão de domingo à tarde...
Como sempre demasiadas porcarias ao lanche...
Os serões são angustiantes com a visão sahariana da semana que se aproxima...

4.3.05

Twixters

Foi a descoberta do dia - uma palavra nova para uma atitude que conheço bem...
A reportagem completa saiu na Times de 16 de Janeiro e intitula-se:

TWIXTERS -- Grow Up? Not So Fast
Meet the twixters. They're not kids anymore, but they're not adults either. why a new breed of young people won't - or can't - settle down


"It appears to take young people longer to graduate from college, settle into careers and buy their first homes. What are they waiting for? Who are these permanent adolescents, these twentysomething Peter Pans? And why can't they grow up?"
...

"Jeffrey Arnett, a developmental psychologist at the University of Maryland, favors "emerging adulthood"to describe this new demographic group, and the term is the title of his new book on the subject. His theme is that the twixters are misunderstood. It's too easy to write them off as overgrown children, he argues. Rather, he suggests, they're doing important work to get themselves ready for adulthood. "This is the one time of their lives when they're not responsible for anyone else or to anyone else," Arnett says. "So they have this wonderful freedom to really focus on their own lives and work on becoming the kind of person they want to be." In his view, what looks like incessant, hedonistic play is the twixters' way of trying on jobs and partners and personalities and making sure that when they do settle down, they do it the right way, their way. It's not that they don't take adulthood seriously; they take it so seriously, they're spending years carefully choosing the right path into it."
...

"Maybe the twixters are in denial about growing up, but the rest of society is equally in denial about the
twixters. Nobody wants to admit they're here to stay, but that's where all the evidence points."

...

poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos.

Alexandre O'Neill

A minha lista desta semana é ainda menos original:
- medo de adormecer
- medo de sonhar
- medo de acordar
Et voilà!

3.3.05

Glorious Britain

Na instituída terra da snobeira há quem faça de tudo e se sinta bem por isso!
Mudar papel de parede, pintar a casa, lixar o chão, envernizar, arranjar móveis, tratar do jardim, coser à máquina, reinventar funções para as velharias, estofar sofás... vale tudo na moda saudável do Do It Yourself.
Os manuais de DIY enchem prateleiras das livrarias, os programas de televisão com dicas sucedem-se e as pessoas aderem a este conceito tão simples do faça você mesmo.
Esta moda só há pouco começou a chegar a Portugal, muito ao nosso jeito distante de apreciar, achar piada e nunca nos atrevermos a meter as mãos na massa, porque pode não ficar bem ou o que é que os vizinhos vão dizer se me virem de fato-de-treino velho a mudar os rodapés?
Eu, que não passo de uma aprendiz de bricolage e ainda não sou possuidora da minha própria home sweet home, limito-me a investir estoicamente num mísero tapete de esmirna...

2.3.05

"I DON'T NEED A LOGO"

É o que diz a camisola que hoje trago vestida: branco no preto.
Gosto dela, mas fiquei a pensar se em mim, esta frase será pleonasmo ou paradoxo...

incompletude

'A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois...'

Sérgio Godinho

...não disseste o que o meu coração queria ouvir.
Acho que chegou a altura de o trancar e deitar a chave fora.

1.3.05