30.1.06

eu

Gosto das coisas de mansinho
Gosto de cumplicidades pequeninas
Gosto de descobertas
Gosto de ser surpreendida
Gosto da franqueza das palavras

e mais não sei...

27.1.06

Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

Sophia de Mello Breyner Andresen

Troco o silêncio e a oração pela linha do horizonte.
Volto já.

25.1.06

microfilme

Primeiro davas-me um abraço.
Depois logo se via.

22.1.06

madalena

Porque hoje é hoje e sou eu quem não tem palavras.

21.1.06

da vida que hoje daqui se vê

Situation number one,
it's the one that's just begun
but evidently it's too late.

Situation number two,
it's the only chance for you
it's controlled by denizens of hate.

Situation number three,
it's the one that noone sees
all too often dismissed as fate.

Situation number four,
the one that left you wanting more
it tantalized you with its bait.

20.1.06

toda a gente sabe (2)

...que o reverso de uma caixa tem sempre informações muito úteis!

Eram 160. Estivémos uma hora entretidos a montar as paredes da escola e a descobrir quem estava por detrás de cada uma das janelas. Estava a ser bestialmente difícil e eu sem perceber porquê. Quando resolvi dar mais uma vista de olhos ao desenho, fez-se luz:

'faltam pessas do pasele'

18.1.06

Quando as palavras que ouvires forem apenas um intervalo no silêncio que habita em mim, saberás que te fala o meu coração.

17.1.06



Uma nova amiga.

Saiu hoje da estante porque me lembrei de ti.

Falta-lhe o azul dos teus olhos, mas tem a vaidade boa de quem se soube eternamente amada.

silenciadores

Chamar nomes às coisas. Perigoso. Torna-as mais reais do que às vezes deviam ser. A partir daí, as coisas nomeadas colam-se à pele e entranham-se em nós.
O que a noite tapa não resiste à luz crua de um novo dia, e ainda bem que assim é: a casa quer-se sempre arrumada. Haja o que houver.
Chamar nomes às coisas. Terapêutico.
Só não me posso esquecer de ir comprar um chá de morango que te deixe dormir.

16.1.06

Chego tarde porque hesito vezes sem conta em bater-te à porta.
Perco-te todos os dias porque sei exactamente onde te posso encontrar.
Agora que estou em casa, que lancei amarras, por que razão insistes em plantar de novo a semente da partida?

15.1.06

É meio do dia. Metade-espelho-metade porque hoje há chuva lá fora.
Da minha vida só quero este meio caixote que ainda agora enchi, ou talvez menos de meio e assim ocupas tu a tua metade e a mais de metade de mim.

12.1.06

uma história simples

Dizem os sábios, os músicos e os estudiosos das coisas invisíveis, que quando um elefante entra numa loja de porcelanas, os estragos são irreparáveis.
Depois do susto de ver semelhante bicho a invadir território privado começa o chinfrim: aqui d'el rei que me partem a loiça toda! Escaqueiram-me o estaminé e eu nem seguro tenho!
Passado o espanto inicial, choram-se as perdas, inventariam-se os danos e apanham-se os cacos. Há peças que vale a pena salvar, que nos deixam de nariz colado ao chão à procura do último pedacinho em falta, mas a grande maioria segue directamente para o caixote do lixo, porque apesar dos pesares, estava na loja há tanto tempo e nunca alguém a tinha olhado duas vezes.
Com a casa ainda em rebuliço, tapam-se as janelas com grandes lençóis brancos, e na porta de entrada (já com uma fechadura nova) pendura-se o letreiro: 'Fechado para obras de remodelação'
De fora ninguém percebe bem a azáfama que por lá vai: varre daqui, esfrega dali, encera o soalho, sacode as teias de aranha, e se deixássemos entrar mais luz cá dentro? Humm... uma planta não ficava aqui mal...
Os 'da casa' ajudam nas pinturas, dão sugestões, trazem chá quente e velas perfumadas.
Passado algum tempo, dentro daquelas paredes respira-se vida. Da loja de porcelanas já ninguém se lembra.

9.1.06

sempre a abrir

Bem moídas, da interpretação epifânica:
- a consciência de haver alguém com quem posso fazer as pazes nos próximos dias (leia-se ficar em PAZ, assim bem maiusculada)
- a minha verdade e a verdade dos outros terem todo o direito à diferença
- a cedência não ser má, desde que implique profunda aceitação do outro e não um 'desta vez leva lá a bicicleta que para a próxima levo eu'

Posto isto, é ver-me de mangas arregaçadas, que começar um ano assim é obra!

8.1.06

inside out

Não gosto do conceito de invólucro.
Asfixia-me, paralisa-me, impede-me de desrolhar o frasco quando preciso de respirar.
Deve ser por isso que ainda não foste capaz de me perceber para além da camada à superfície.
Ainda assim, prefiro a tua falta de esforço a ter que inventar um cantinho de abertura fácil.
Bem sei que sou maluca, mas antes esgotar-me em tentativas e erros do que entregar-te o manual de instruções.

6.1.06

toda a gente sabe (1)

Pela boca da Sofia, 4 anos inteirinhos, enquanto pintava os olhos do sol de cor-de-rosa (o lápis mais giro porque é brilhante):
- Sabes Joana, eu sou muito forte porque já ando no bibe vermelho e para o ano caem-me os dentes...
(arregalei os olhos...)
- Pois, os dentes caem sempre todos no bibe azul!

A minha agenda para 2006 não é um Moleskine e tem anjos ao virar da página.
O bom de ser um tamanho XL é que cada V que escrevo ganha logo o estatuto de tarefa hercúlea dificilmente alcançável.

(já lá estão 5!)

3.1.06

someday, sometime, somewhere

Desta vez não se esquivou à resposta. Sorriu desajeitada e deixou que as palavras saíssem.
Depois, foi tempo de perceber que assim se sentia feliz, que havia espaço na sua vida para o tanto amar silencioso.
Despediu-se com o costumeiro 'até já' e saiu de mansinho.
O mar que fez então nascer dos olhos era mais salgado que o horizonte. Ainda assim, antes de mergulhar, deixou a chave debaixo do tapete.

1.1.06

o mergulho prometido

Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida.
Mia Couto

A quem está por perto, a quem está longe, a quem vai chegar neste ano novinho em folha, apenas um desejo-certeza-propósito: só convosco vale a pena.