27.2.06

inconsequente

Ele: Quem é você?
Ela: Adivinhe, se gosta de mim

Os dois: Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:

Ele: Quem é você, diga logo
Ela: Que eu quero saber o seu jogo
Ele: Que eu quero morrer no seu bloco
Ela: Que eu quero me arder no seu fogo
Ele: Eu sou seresteiro
Poeta e cantor
Ela: O meu tempo inteiro
Só zombo do amor
Ele: Eu tenho um pandeiro
Ela: Só quero um violão
Ele: Eu nado em dinheiro
Ela: Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte
Não sei mais dançar
Ele: Eu, modéstia à parte
Nasci pra sambar
Ela: Eu sou tão menina
Ele: Meu tempo passou
Ela: Eu sou Colombina
Ele: Eu sou Pierrot

Os dois: Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal
Deixe a festa acabar
Deixe o barco correr
Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
Da maneira que você me quer
O que você pedir
Eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

Chico Buarque

24.2.06

- Para andares a escrever assim deves andar a fumar umas berlaitas... só pode!

(comentário masculino acerca dos últimos posts deste frasco, seguido de gargalhada e a certeza de que os meus amigos são os MÁIORES!)

23.2.06

don't say that later will be better

E mais uma vez o frágil se faz forte e se deixa ir.
Desanima entre sorrisos e cumplicidades mas reage no vazio.
Sobrevive na espera. Nuns dias a que sempre alcança, noutros a que desespera.

22.2.06

do silêncio

Mais do que estar calada: fazer por escutar.

17.2.06

em loop

- Sabes...
- Sei...
- Tu sabes?
- Sei.
- Eu sei que tu sabes...
- E eu sei que tu sabes que eu sei...
- E agora?
- Agora? Não sei...

16.2.06

assumo que sou uma menina mimada...

...mas é tão bom estar um bocadinho-inho-inho doente e receber uma delícia de livro de quem nos conhece como a palma da mão!

Conseguiu o impossível: criou raízes à beira-mar e fez-se estátua de sal. Pedacinhos incontáveis, semi-transparentes, à espera da onda que os diluísse na plenitude do horizonte.

13.2.06

(Penso no que o medo vai ter

e tenho medo

que é justamente

o que o medo quer)


Alexandre O'Neill

11.2.06

introspecção

Sou tão mais feliz quando abro o coração às pequenas coisas!

10.2.06

eu ninguém

Não sei como te chamas. Há três meses que me sorris quando passo a porta da enfermaria, quando vou ver os animais novos do teu pequenito, agora só a fingir porque os que tens em casa trazem bicharocos que lhe podem fazer mal e vê-los, só ao longe e nos poucos fins-de-semana que daqui te escapas.
Sei o nome do teu filho. Sei que não te podes afastar para lá do que a vista alcança e que tens medo da viagem do próximo mês. Sabes o quanto te admiro?

9.2.06

adivinha







Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente de infinito a infinito
Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha
Uma delas certo dia
Voltou-se para a outra linha
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
E anda aqui para o pé de mim...!
Diz a outra:
"Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!"
Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
E sorrindo amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.
E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar
Seguiram as duas juntas.
Assim nestas poucas linhas
Fica uma estória banal
Com linhas e entrelinhas
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.

José Fanha

8.2.06

não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples… não compliques o que é simples…

6.2.06


Estás do outro lado do mundo, do outro lado da linha, do outro lado das coisas e continuas a ler-me à transparência.

apneia

Nightswimming deserves a quiet night.
The photograph on the dashboard, taken years ago, turned around backwards so the windshield shows. Every streetlight reveals the picture in reverse. Still, it’s so much clearer. I forgot my shirt at the water’s edge. The moon is low tonight. Nightswimming deserves a quiet night. I’m not sure all these people understand. It’s not like years ago, the fear of getting caught, of recklessness and water. They cannot see me naked. These things, they go away, replaced by everyday. Nightswimming, remembering that night. September’s coming soon. I’m pining for the moon. And what if there were two side by side in orbit around the fairest sun? That bright, tight forever drum could not describe nightswimming. You, I thought I knew you. You I cannot judge. You, I thought you knew me, this one laughing quietly underneath my breath. Nightswimming. The photograph reflects, every streetlight a reminder. Nightswimming deserves a quiet night, deserves a quiet night.



Desejaram-lhe um ano de muitos mergulhos. Todos os que ela prometera naquela madrugada e todos os que não sonhava ainda dar.

3.2.06

No final do primeiro acto entregaram-lhe um ramo de camélias. Fez uma vénia profunda, demorou-se a fixar cada pormenor da sala e saiu.
Ninguém deu conta do desaparecimento súbito porque a chegada fora igualmente repentina. Aí vem a tempestade! - diziam-lhe quando se aproximava, e a candura habitual daqueles olhos crepitava na ânsia de se entregar ao palco.
Era a primeira vez que abandonava um projecto no ensaio geral, mas temia que aquele não fosse o espectáculo da sua vida.
Desceu as escadas sem pressa. Libretto debaixo do braço e a cabeça a fervilhar de ideias, que um dia, quem sabe, iriam compor o final da sua história.

1.2.06

amor transparente

(há dias em que me sinto tão cansada de andar sempre em pézinhos de lã...)