18.3.07

manifesto pró-sonho bom

Ando com medo dos meus sonhos.
Não que sejam premonitórios ou pesadelos, mas nos últimos tempos sonho em retaguarda.
Sempre que me lembro do que sonho, passo as noites a projectar para o futuro o que devia estar trancado a sete chaves no baú. E não é bom. Não me faz bem. Não me ajuda a ser feliz.
Quero sonhos cor-de-rosa. Quero acordar com o coração aos pulinhos. Quero ter a certeza de que a primavera está à espreita e me vai presentear com uns pós de perlimpimpim.

11.3.07

dos meus azuis

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho da madrugada,
até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia do meio-dia,
até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam com o tempo,
deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez ali o puseste;
e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre na superfície dourada.
Podes, então,
levantar a cor até à altura dos olhos,
e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes,
sem que possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz - eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé - e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.

Nuno Júdice