Tila Hood, ou a versão portuguesa do Robin
A Otília é uma mulher de armas. Idade tão indefinida como a cor do cabelo (sempre apanhado num rabo de cavalo teimoso), trabalha com a força e genica de quem é simples, todos os dias, incansavelmente. Fala alto, refila muito, se lhe cai alguém no goto, é um anjo, uma querida, uma jóia, se há alminha que toma de ponta, rosna baixinho enquanto atira a bica ou o combinado para cima do balcão.
Hoje, (e tenho a dizer-vos que vou cometer uma inconfidência) ouvi uma conversa entre a Tila e um homem velho de rosto, encolhido na roupa muitos números acima do dele, acabrunhado nas nódoas de tinta e no pó que um servente carrega consigo. O homem que parecia avô de longa data, tinha pouco mais que 50 anos e a miséria estampada na alma. A Tila aconselhava, admoestava, dava exemplos de desgraça familiar, lembrava que era preciso afastar-se das más companhias, não beber, e ter sempre dinheiro que chegasse para a renda do quarto. Que não se apoquentasse com o dinheiro do almoço, pagava o patrão no final da semana, e quanto à bucha da manhã, era por conta dela, que a gente aqui com tantos ricos, também nos há-de sobrar alguma coisinha para quem precisa.
Escusado será dizer que poisei os talheres no prato...
Sobrar para quem precisa? Enquanto vivermos na ilusão de que é com as sobras que matamos a fome aos males do mundo, não há Tilas nem lições de humanidade que nos valham.
1 comentário:
identifico as personagens.
reconheço as maleitas.
desconheço a cura...
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