29.7.05

visões

Ando a precisar de lavar os olhos.
Literalmente.

26.7.05

Tenho-me lembrado das minhas viagens. Não das estadias, dos lugares ou das pessoas. Nem sequer dos momentos, só das viagens em si, do caminho que é necessário percorrer para a passagem de um local para outro. Por inúmeras razões tenho viajado bastante sozinha. Carro, comboio, autocarro, ferry, avião e um sem número de percursos, mais ou menos repetidos.
Dei por mim a fazer contas à vida e os últimos oito anos foram pródigos em quilómetros. Cada quilómetro recheado de música, de pensamentos, e, acima de tudo, de muitos olhares. Descobri que gosto de viajar sozinha porque ter tempo para olhar é um privilégio. Gosto de me sentar à espera de um voo e deixar-me envolver pela vida dos outros, bem camuflada atrás do livro que vem sempre comigo e que me empurra, ele também, para outras vidas. Gosto de passar pelos mesmos lugares em diferentes alturas do ano e em diferentes horas do dia. Gosto de reconhecer curvas e identificar as mudanças. Gosto da expectativa do novo quando o destino é desconhecido, e do desejo do abraço e do reconforto de um regresso ou de uma espera.

Ficar? Voltar? Partir?
Sinto que nunca vou saber a resposta… nem sei se quero…

25.7.05

alvoroço

(resumo dos últimos dias)

Sonoro e sentido.
Poder ser de dentro para fora e de fora para dentro.

coração_madalena_pele_futuro_surpresa_medo_
reviravolta_mansidão_tu_entrega_
cores_eu_mergulho_palavras_partida_branco_vida

21.7.05

coisas em que não acredito (1)

- Produções independentes;

- Rimel que aumenta o volume das pestanas;

- Prazos de validade;
...

20.7.05

coçadelas

Prurido [prurídu]. s.m. (Do lat. pruritus). 1. Sensação que se experimenta ao nível da pele ou numa parte do corpo, que provoca o desejo e a necessidade de coçar…

Estou, basicamente, cheia de comichão, carregada de borbulhas incómodas e inestéticas que não ficam bem de vestido, não gostam de morangos à sobremesa nem confraternizam com ácaros…

(isto dá uma irritação que não vos digo nem vos conto…)

Paciência com a je nos próximos dias e o mercuriocromo promete um regresso estival em pleno, longe do efeito sonolento-lamechas do Zyrtec.

Na dificuldade em perceber por que razão só o desconhecido conforta, faço do amor a minha arma de arremesso e deixo de temer a vertigem.

Passos pequenos demais para um salto que se queria longe? Quem sabe…

da noite

Prometi a mim mesma que ia chegar a casa cedo, sentar-me ao computador e organizadamente preparar a aula de amanhã sobre o uso do conjuntivo.
Dei por mim deitada nos telhados a olhar mais para o pólen do que para as estrelas, a rir-me do verde das nossas mãos cansadas de trepar as grades, a gozar a sensação de interdito já fora do prazo.
O conserto ficou prometido, ainda que faltem as peças ou que não tenhamos coragem para as ir procurar.

Amanhã, o dia é melhor.

18.7.05

fim do dia de hoje

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

Sophia de Mello Breyner Andresen

17.7.05

sentido

«Ter um sentido para a vida é passar a vida, continuamente, em busca dele.»

Palavras ditas esta tarde, pelo Filipe, lembrando um filósofo grego.

Parece paradoxal. Parece frustrante e pouco compensador. Parece a certeza da eterna insatisfação. Mas ao mesmo tempo, e de forma estranha, é apaziguador. Afinal não sou assim tão estranha por continuar à procura... talvez seja este o segredo: gozar a busca do sentido maior vivendo as pequeninas coisas na sua inteira plenitude, porque só da parte nasce o todo.

Em todos os sentidos.
Com todos os sentidos.

ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

15.7.05

um ano depois

Faz hoje um ano que abri a porta.

Com uma precisão quase cirúrgica, um ano que se divide, que me divide, meio cheio, meio vazio, partido ao meio, claro escuro.
Faz hoje um ano que por razão nenhuma me sentei aqui e brinquei às palavras.
Já houve amuos, desistências, surpresas, mudanças de visual, encontros, descobertas e desencantos.

Continuo por cá, sem prazo, enquanto fizer sentido.

A este sítio, agradeço o regresso à escrita.

13.7.05

could you please repeat?



When you try your best, but you don't succeed
When you get what you want, but not what you need
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse

When the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
High up above or down below

When you're too in love to let it go
If you never try you'll never know
Just what you're worth
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

Coldplay

12.7.05

amazing grace

É ver o teu sorriso de mãe-menina logo pela manhã e dar-te um abraço apertado - Parabéns!

É receber tanto de quem sinto que não me deve nada (e dever é uma palavra feia, bem sei, mas é assim que as coisas são...)

É entregar-me à vida.

7.7.05

angústia

Há duas noites que mal durmo. Ando angustiada. Preocupam-me mais as decisões daqueles que amo do que as minhas. Não sei se é bom ou mau, sei que sofro com isso. Sinto-me incapaz de transmitir força, de falar de coração aberto, de confessar (olhos nos olhos) o medo da distância, da partida, da solidão, da perda, da dúvida, sem me achar estupidamente egoísta.
Sinto-me a pairar.

6.7.05

«o cume do coração»

Título roubado. Não me importa. Gostei do eco que fez em mim: o cume do coração. Da planície terra-a-terra é um longe assustador. Qualquer coisa maior e uma escalada até lá chegar acima.

5.7.05

passar os dias a verso


Fatima Ronquillo

Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
– mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade

da bela língua

Se o vazio não tem peso, como é que pode ser insuportável?

4.7.05

às voltas do mundo

É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.

Nuno Júdice

2.7.05

Tarefa do mês:

- ligar o descomplicómetro.