2.11.04

All Saints

Em dia de Todos os Santos a minha eterna relação de amor-ódio com cemitérios volta à baila. Aflige-me tanto a afluência nestes dias de vendedores de flores e velas com um ícone de Cristo, (preferencialmente de peito aberto em chaga e tez branca de leite), como nos dias normais me afligem as rosas de plástico com pintas de cola transparente em jeito de água fresca acabadinha de borrifar, com cores tão berrantes, que não soubéssemos nós que de plástico são feitas, acreditávamos estar perante um milagre de cor geneticamente modificada.
Respeito profundamente os nossos ritos, mas entristeço-me com eles. Temos obrigações físicas post-mortem. Dias marcados na agenda, cores interditas, vocabulário arejado e positivo sobre os 'santinhos' que já lá estão. Choramos, carpimos, falamos baixinho e vamos sofrendo a dor genuína, sempre muito mais sentida e lúgubre quando nos nossos folclóricos cemitérios.
Venham de lá placas de pedra branca, lisa, e hectares de relva, flores com raízes na terra, árvores e piqueniques. Crianças a brincar e a falar alto, num espaço que pode e deve ser exemplo de vida.

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