28.2.05

colo

Tratavas-me por ginja ou gata chalupa e tiveste sempre o condão de rir dos meus erros.
Ouvia-te a assobiar quando subias as escadas de jornal debaixo do braço e cigarrilha no dedo.
Vi todos os grandes épicos do cinema contigo e do alto dos meus oito ou nove anos aprendi a conhecer os grandes mestres aos primeiros acordes, sentada na poltrona de orelhas do escritório, enquanto tu passeavas de um lado para o outro, olhos cerrados e dedo em batuta.
Gostava de ter conversado mais contigo. Gostava que estivesses aqui para te contar as agruras dos meus dias maus, para ouvir as tuas gargalhadas desarmantes, para te explicar que às vezes é difícil ser feliz...

tão simples como

"Estar presente é chegar igual a si próprio e abrir-se ao outro."

CV

Sempre que abro esta pasta balanço entre a pontinha de orgulho (tão precisa nestes dias!) por algumas das experiências que já vivi e o terror de sentir que muito do mais importante 'não cabe' neste resumo de vida standardizado, neste traçar de um perfil que tão poucas vezes corresponde à realidade. Talvez o problema seja meu e esta dificuldade inata de lidar bem com expressões que não entendo: Curriculum vitae? Ainda se lhe chamassem listagem de actividades ou dados pessoais... Agora resumo da vida em formato europeu ou short version, de preferência sem ultrapassar as 2 páginas, é demais para a minha compreensão...

27.2.05

pé ante pé

Começo a ter esperança nos dias que aí vêm...
Depois das surpresas menos boas desta última semana, da desilusão a crescer mais do que algum dia pude imaginar, sinto que a vida do último mês e meio não foi a minha.
Quero deixar de ter medo de adormecer, quero acordar com vontade de abrir a janela e aproveitar cada dia-dom-dádiva, quero regressar à vida, quero mudar as regras do jogo e voltar a sonhar o futuro de todos os dias.

MUDA DE VIDA
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim?...

Olha que a vida não, não é nem deve ser,
Como um castigo que tu terás de viver


Humanos (António Variações)

25.2.05

african lullaby

Receber um cd de canções de embalar quando se já vai avançado na casa dos 20 e não há filhotes à vista dá que pensar...
Tive a sorte de ser presenteada por uma resistente a esse tipo de preconceito e desde então que os meus dias são deliciosamente embalados pela doçura de um canto quase telúrico.
Recomendo.

24.2.05

verdadeiramente

Nunca tinha sentido tão na pele a falta dela. E talvez por isso mesmo a tenha arrumado na prateleira secundária dos meus valores intocáveis.
Hoje deixei de ter dúvidas - é o valor maior.
Viver com verdade, em verdade, de verdade.
Ser de verdade.
Tudo o mais (que é verdadeiro) nasce apenas disto.

23.2.05

chorar emagrece...

...e não há quem me convença do contrário!
Tenho dito.

22.2.05

calvinices

Hoje deram-me este abraço...

...e eu quero mandá-lo de volta a todos vós, por serem os melhores amigos do mundo!

elegia a um amor ausente

Porque hoje é o primeiro dia do resto da minha vida...
Porque logo hoje resolveu chover...
Porque apesar dos pesares eu até gosto de Supertramp...

It's raining again
Oh no, my love's at an end.
Oh no, it's raining again
and you know it's hard to pretend.
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.
Oh no, it's raining again
Oh will my heart ever mend.
Oh no, it's raining again
You're old enough some people say
To read the signs and walk away
It's only time that heals the pain
And makes the sun come out again
It's raining again
Oh no, my love's at an end.
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.
C'mon you little fighter
No need to get uptighter
C'mon you little fighter
And get back up again
Oh get back up again
Fill your heart again...

e se de repente...

...um desconhecido lhe oferecer flores?

(ups... são gerberas em vez de tulipas brancas...)

21.2.05

do que eu preciso ou como a vida pode ser uma pescadinha de rabo na boca

AMOR... chá... colo... sorrisos... conversa... mimo... livros à cabeceira... humor... desafios... verdade... alegria... sonhos... água quentinha no duche... sol... viajar... abraços... música... AMOR...

18.2.05

em paz

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

Ricardo Reis num dia triste e a certeza de mais um sorriso no céu.
...

16.2.05

umbigo meu

Há notícias que nos desarmam. Pelo desconcertante, pelo inesperado, pela impotência, por nos apercebermos (apenas quando o mundo de outrem desaba mesmo ao nosso lado) que dedicamos demasiado tempo ao nosso umbigo.
E afinal, para quê?

15.2.05

nas Tuas mãos

cold cold water surrounds me now
and all i've got is your hand
lord can you hear me now?
or am i lost?
no one's daughter allow me that
and I can't let go of your hand
lord, can you hear me now?
or am i lost?
don’t you know i love you
and I always have
hallelujah
will you come with me?
cold cold water surrounds me now
and all i've got is your hand
lord.. can you hear me?
or am i lost?

Damien Rice

older chests

Sei que já me devia ter habituado à surpresa de ouvir da boca de outros aquilo que me vai passeando pela alma, mas confesso que continua a ser uma descoberta arrepiante...
A legenda dos meus últimos tempos devo-a a este álbum, à voz de
Damien Rice e ao fabuloso violoncelo de Vyvienne Long.


Some things in life may change
And some things
They stay the same

Like time, there's always time
On my mind
So pass me by, I'll be fine
Just give me time

14.2.05

para além das nuvens

Quando entrei em casa saltou-me imediatamente à vista: em cima da arca do hall, uma caixa de cartão com o meu nome no destinatário.
Lá dentro, um abraço forte de outro continente, em palavras, sons e sabores que me deixaram indecisa entre o sorriso que não me sai da cara e a comoção de me sentir compreendida.

Este, é só para ti...

a duas vozes


"Prefiro esquecer, esquecer-te até se preciso for, para viver como tu vivias, apreciando cada momento - sobretudo os dolorosos, pela lucidez que trazem como bónus - desta tão precária maravilha a que chamamos existência. Tantas vezes te aconselhei as virtudes do silêncio. Queria calar-te para te proteger, sim. Há poucas pessoas apetrechadas para a verdade - mesmo nós, quantas vezes não fechámos à chave umas verdadezitas mais cortantes para não nos magoarmos? Creio que me fazes - schiuuu! - assim, com uma vaga de embalo, sempre que a voz da minha consciência (seja lá isso o que for) sobe o tom para me acusar pelo que não te dei. Creio sem crer, como um condenado. Afinal de contas, não tenho nada a perder. Mesmo que os anjos não existam, as asas com que te vejo, sentada na beira da minha cama, do cume enlouquecido da minha insónia, ficam-te melhor do que todas as toilettes. Esforço a imaginação, estendo-a até aos teus dedos, mas não consigo mais do que um ligeiro roçagar de asas. São lençóis que agito, bem sei - mas não me concederás a graça de transformar a fímbria do meu lençol na ponta dos teus dedos?"

13.2.05

em bruto

Em pinho, carvalho, ébano, faia, choupo, cerejeira, pau-santo...
Simples ou nobres, claras, escuras, suaves ao toque, rugosas, robustas, toscas ou trabalhadas até à exaustão da forma. Com ou sem embutidos. Com verniz, enceradas, pintadas ou ao natural. Sóbrias, imponentes, românticas, minimalistas. Funcionais ou meramente decorativas.
Peças (i)móveis feitas gente de todos os dias.

9.2.05

quarta-feira de cinzas

Trauteei Sérgio Godinho, entristeci-me, pensei na vida, senti-me amada, fui à missa e decidi ser fénix.
Decidi (mais com a cabeça do que com o coração, que esse ainda é dos que usa manivela...) besuntar-me de mercurocromo, despojar-me das minhas angústias e dramas e assumir a minha lágrima fácil, a minha fragilidade disfarçada de constante fortaleza, o meu querer colo diário.
Sou assim e pronto. Sou eu, Joana de todos os dias em dias mais não do que sim, em dias talvez ou assim-assim. Sou o muito que de vós recebo. Sou riso e corpo. Sou olhos que piscam, lume aceso, amor tanto. Sou medo e certeza. Sou grito, teimosia e caminho. Sonho e sede.
Sou, apenas, vida.