14.12.05

Na casa que cheira a essência de rosas (paixão e sedução, dizia o frasco) o coração respirou fundo. Faltava-lhe o ar há tempo demais e sentia-se cansado. Os olhos iam pesando conforme a lonjura dos dias e hoje estavam particularmente entorpecidos.
Recordou devagarinho todas as imagens. Revisitou-as. Acrescentou os pormenores imaginados. Alucinou consciente de que só um bom tinto tinha aquele efeito e teve pena de dificilmente se inebriar.
Despiu-se devagar. Primeiro as botas, depois o casaco, as calças, peça a peça amontoando-se na poltrona azul. Pelo canto do olho o corpo semi-nu tomava forma no espelho - a estranheza familiar de sempre, o dentro e o fora, o eterno lugar-comum...
Quando os olhos se detiveram por instantes no relógio à cabeceira percebeu que já era amanhã.

1 comentário:

ana disse...

lindo..