28.12.05

a recta final

De um ano às avessas guardei a verdade do sorriso que quero manter.
Ficou-me a certeza de que preciso de sol e que sou um tudo ou nada mais corajosa do que me imaginava.
Percebi que sou capaz de mostrar as minhas fragilidades e continuar a ser amada e que só amando me sinto infinitamente feliz.
Deixei de viver no futuro, mas serei uma eterna menina expectante.
Além disso, gosto muito de anos pares.
Que seja um grande 2006!

25.12.05

24.12.05

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
...
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo o que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
...
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
...
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Alberto Caeiro, Poemas.

23.12.05

demasiado humana

Aprendi a acreditar no velho ditado do 'longe da vista, longe do coração' e ainda que a certeza de um caminho outro seja parte do meu sorriso de todos os dias, há coisas que me magoam profundamente.
Não aguento tudo, não suporto tudo e não tenho armadura.
O letreiro do meu frasco é, a partir de hoje: 'HANDLE WITH CARE'

19.12.05

pausa

pensar_agir_rezar_parar_olhar_sentir_lembrar_chorar_abraçar
sorrir_acolher_decidir_reflectir_interiorizar_perceber_ser

É tempo de me dar tempo para tentar tudo isto.
O armário dos remédios continua de porta entreaberta.

15.12.05

de coração cheio

Sabem que vocês são os MAIORES DO MUNDO?
Fizémos puzzles de animais, de letras, de profissões e dos cinco sentidos. Pintámos um hipopótamo de cor-de-rosa, um fantasma de azul-cueca e ajudámos a Leopoldina a descobrir o caminho de volta. Lutámos com balões. Vimos fotografias. Jogámos ao stop e eu resisti a 3 combates de wrestling inteirinhos na vossa PS2.
Até para a semana príncipes e princesas de além-dor.

14.12.05

post-it mental:

NÃO BEBER CAFÉ AO JANTAR
(era delicioso, rendo-me à máquina, mas já se dormia... já, já...)

Na casa que cheira a essência de rosas (paixão e sedução, dizia o frasco) o coração respirou fundo. Faltava-lhe o ar há tempo demais e sentia-se cansado. Os olhos iam pesando conforme a lonjura dos dias e hoje estavam particularmente entorpecidos.
Recordou devagarinho todas as imagens. Revisitou-as. Acrescentou os pormenores imaginados. Alucinou consciente de que só um bom tinto tinha aquele efeito e teve pena de dificilmente se inebriar.
Despiu-se devagar. Primeiro as botas, depois o casaco, as calças, peça a peça amontoando-se na poltrona azul. Pelo canto do olho o corpo semi-nu tomava forma no espelho - a estranheza familiar de sempre, o dentro e o fora, o eterno lugar-comum...
Quando os olhos se detiveram por instantes no relógio à cabeceira percebeu que já era amanhã.

12.12.05

:)

Viva o José Barata Moura, a Carochinha, o Avô Cantigas e a Ágata no tempo em que cantava a Abelha Maia lá num país cheio de sol.
Viva a madalena-menina-dos-meus-olhos que me fez vir à procura destas pérolas musicais!
Viva o gustavo e a clara e o vicente e a leonor e todos os outros sorrisos que estão mesmo, mesmo a chegar!

coisas em que acredito

- fim do arco-íris
- bricolage terapêutico
- ler até os olhos doerem
- emplastros que cheiram a hortelã
- ataques de riso

(pronto, confesso...)

- HAPPY ENDINGS

10.12.05

(ir)racional




'...tenho duas almas em guerra

e sei que nenhuma vai ganhar...'

Eros e Psyche, Canova

9.12.05

dadá

O livro ficou a meio e a valsa que era tua está há dez anos por dançar.
Fazes-me falta.

8.12.05

a baixas temperaturas

Não me ignores, não me ames, não me odeies, não me apontes o dedo, não me tires do sério, não me faças rir, não me acuses, não me olhes assim, não finjas que não existo, não me trates como compincha, não me magoes, não te magoes, não mintas, não te zangues, não fujas, não te mexas que é só um instante enquanto vou ali congelar o amor e já venho.

7.12.05

nado-morto

Embrenhei-me de tal forma na retórica dos pormenores que nem me dei conta que a nossa história, afinal, nunca chegou a ser.

Fiquei em casa, ajuizadamente infeliz.

lugares comuns

No amor não há escolhas possíveis.
E eu escolho amar-te. Todos os dias.

6.12.05

A imaginação é o mais perigoso dos exercícios.

2.12.05

filtro

Absorvo tudo com sofreguidão. Sigo o percurso dos teus olhos, interpreto sorrisos, cansaços, sobrancelhas carregadas. Devoro as tuas palavras, enterneço-me com a tua voz, rio-me contigo.
Tu és tu e a tua circunstância, disseram-me há tempos. Desde esse dia abandonei os meus filtros de cor, ajustei a lente e assumi um novo olhar. Sou mais feliz por isso. Não sei se te amo melhor.

de hoje

Chuva lá fora, conversa boa cá em casa e o meu tempo a ganhar-se nas pequenices que gosto de fazer, na antecipação dos sorrisos.
Preencho-me de letras, cola, tesoura, papel, feltro, miminhos no forno, botões, agulhas e linhas com que vou costurando os meus nós.
Fazem-me bem estes dias.

30.11.05

a muitas mãos

Rodou o puxador metalizado da porta a 180 graus e fechou-a devagarinho atrás de si, invertendo o sentido do puxador e do futuro. Caminhou estrada fora durante uns minutos, sempre a olhar para A janela, mas quando chegou ao final da rua foi como se lhe tivessem partido um serviço de loiça na boca do estômago. Começou a correr e só parou quando já não conseguia aguentar a dor de burro. “Já está, consegui”, disse o cérebro ao corpo, enquanto os olhos se fixavam na sua triste figura reflectida nos painéis publicitários das paragens de autocarro.


Podia ter acontecido ontem ou cinco anos atrás. Sentia agora que, se calhar, tinha sido preciso passar aquele tempo todo: exactamente seis anos, dois meses e catorze dias.
Enquanto recuperava o fôlego da corrida (afinal, porque lhe faltava o ar, logo a ele, que estava habituado a abusar do corpo, a levá-lo tantas vezes ao limite onde a taquicardia definitivamente acaba?), cruzou-se com a memória desse dia.

Trazias uma t-shirt branca não muito justa, o cabelo solto e um sorriso que me desarmou ao primeiro olhar. Pediste-me que tirasse a camisa e me deitasse num tom de voz tão baixo que me foi difícil perceber o que dizias. Obedeci-te prontamente, expectante. Observei todos os teus gestos: o acender do incenso, o correr da persiana, o gesto profissional com que aquecias sempre as mãos uma na outra.

(uma história a precisar de outras tantas madrugadas...)

26.11.05

questa notte


Password, Ludovico Einaudi

Para além de tudo o que me estampou um sorriso na cara
e me fez sentir (e agir!) miudinha, a certeza de que o que vale
realmente a pena é tão simplesmente ter-vos comigo.

25.11.05

turbilhão

Dói-me: a mais longa promessa da minha vida não foi de alma, não foi de entrega, não foi a alguém.
Hoje era preciso chuva.
Que me lavasse por dentro e por fora. Mais forte que o meu sorriso contristado, mais forte que a minha vontade de não cair de novo na devastadora tentação do e se...
Hoje era preciso sol.
Que me secasse esta torrente de ideias descompassadas, que me iluminasse o futuro agrilhoado a um cofre, me passasse as mãos pelo cabelo e me conseguisse realmente convencer a não ficar triste.

23.11.05

simples (III)

«...porque a gente ainda não sabe qual é a pergunta, mas já aprendeu que o amor é a resposta»

(mais um roubo de palavras, desta vez para a travessia do Inverno)

simples (II)

«Dai-me apenas Senhor,
O Vosso Amor e Graça
Que isso me basta.»

Sto. Inácio de Loyola

21.11.05

simples (I)

«É preciso amar as pessoas como
Se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar
Na verdade não há.»
Renato Russo/Legião Urbana

18.11.05

acordei

a sentir-me um perfeito armazém de perdidos e achados.

...

Alguém faz o favor de pôr ordem nesta casa?

«I'm not a stranger in the hands of the Maker»

15.11.05

purple heart


- sem agulha
- sem domínio da técnica
- sem coragem para descobrir o fio à meada

14.11.05

(...)

Comecei a história. Sonhei-lhe um início, um meio e uma eternuridade.
Continuo a acreditar que nela sou feliz e a cada linha que acrescento aceno-te.
Não te esqueças do selo meu amor.

12.11.05

ser presente

And in high seas or low seas,
I'm gonna be your friend,
I'm gonna be your friend.
Said, high tide or low tide,
I'll be by your side,
I'll be by your side.

10.11.05

à lupa

A Rosa do Mundo é maior do que uma Bíblia em ponto grande.
Ocupa-me um espaço enorme na segunda prateleira da estante, e entre nuvens desfocadas deixa-me todos os dias um recado: 2001 poemas para o futuro. Não os li todos. Gosto de a abrir (sim, porque este é um livro no feminino!) ao acaso e de vez em quando, e surpreender-me com palavras de outrem. Uma excepção apenas: Ramos Rosa. O marcador azul escuro está na mesma página desde o primeiro desfolhar.

...
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.

Depois de anos a lutar comigo mesma e com os epítetos de pseudo-queridez que tantas vezes me camuflam e reduzem a pouco mais que um sorriso e a uns olhos piscantes, fui desarmada. Disseram-me esta semana que andava numa fase particularmente doce e eu, finalmente, percebi.
Pode alguém ser quem não é?

8.11.05

The space between
What's wrong and right
Is where you'll find me hiding, waiting for you
The space between
Your heart and mine
Is the space we'll fill with time
The space between...

6.11.05

chega

Não quero ser cega, nem surda, nem insensível, nem alheada da realidade, mas há coisas que eu, definitivamente, não preciso mesmo de saber.

4.11.05

Gostava tanto de ser corajosa!

3.11.05

reencontros

«E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.»
Miguel Sousa Tavares
Obrigada.

2.11.05

sinto-me

desconcertada_curiosa_serena_baralhada_grata_expectante_acelerada
_frágil_feliz_amedrontada_titubeante_perdida_certa_insegura_

(achas que algum dia conseguiremos acabar este jogo de escondidas?)

31.10.05

contr'atmosférico

Cá fora
assoadelas_ruidosas_espirros_nariz_entupido_cabeça_pesada

Cá dentro
e não é que faz mesmo SOL? (acho que estava só a precisar de ser lembrada)

30.10.05

hoje, e sempre


'This world was never meant for one as beautiful as you.'

26.10.05

Gostava de te dizer ao ouvido ‘chega-te aqui, mais perto da lareira’ e trautear-te o meu dia com a arte de quem sabe. À falta de lareira e de coragem, ofereço-te as minhas diurnas insignificâncias, entre uma trinca de bolacha de água e sal com uma fatia de queijo plástico (não digas a ninguém, mas é uma delícia…)
Queres ouvir? Então aqui vai:
- tive notícias sorridentes do outro lado do planeta
- cruzei-me com um passado distante
- mudei o piercing
- pedi o primeiro orçamento para a minha quase-casa
- almocei em bem-querer
- escrevinhei
- estive com a menina mais linda do mundo
- fiz uma risca nova no tapete
…e (pasma!)
- olhei-te nos olhos

até amanhã

deep blue


Tenho por mim que a memória é azul. A cor imensa.
Visto e dispo o coração de imagens. Do filme de hoje à noite,
deste Dali que me impressiona mais do que qualquer outro.
Fora d'horas. Angustiantemente azul.

24.10.05

post mortem

Naquela noite deitou-se com um sorriso.
Passou as mãos pelos cabelos, muito devagar. Rodou o pescoço no gesto que lhe é tão típico e sentou-se à beirinha da cama.
Não foi capaz de ler embora soubesse que o sono ia tardar e bebeu um golo de água antes de apagar a luz.
Espreguiçou-se e esticou-se ao comprido para sentir a maciez dos lençóis e aperceber-se da tensão dos seus músculos.
Fechou os olhos e a frase veio-lhe novamente à memória:
'O dia de amanhã é irrepetível.'
Adormeceu a sorrir por ter finalmente percebido uma coisa tão simples.
Morreu em paz.

23.10.05

o último reduto

Só em sonhos, só à espera do fim.

It’s out there
If you want me, I’ll be here
I’ll be dreaming my dreams with you
And there’s no other place that I’d lay down my face
I’ll be dreaming my dreams with you

21.10.05

ironias do destino

Vá lá! Tu sabes que eu gosto de surpresas e nem lido mal com mudanças, mas estares constantemente a pregar-me partidas destas também cansa.
Que tal uma folga? Olha que a minha capacidade de encaixe já não é o que era e o mau feitio vem ao de cima mais depressa do que era costume...
Posso carregar na pausa e deixar o coração de molho? À confiança?

20.10.05

humm...


Saint Exupery's 'The Little Prince' Quiz.

Pois é, eu bem sabia que alguma coisa não andava a bater certo: falta-me o brevet!

19.10.05

'a minha pátria é a língua portuguesa'

Sorriste-me do fundo de uns enormes olhos azuis e disseste a medo «sou fármaceuta, sou ucranía». À tua voz juntou-se um tom mais grisalho «istou quasi na réforrma e quérro viver em Pôrtugal».
Vieram dos quatro cantos do mundo. Vieram pela aventura, porque se apaixonaram, porque fogem. Vieram em missão, curiosos, compenetrados, desconfiados. Vieram, simplesmente, para aprender.
Pedem-me poemas de amor, receitas, música, um bocadinho de história, uns pós de arte, direito, economia «falar depressa e correta»
A todos vós:

Li_Amy_Zhu_Olena_Paulo_Reuben_Fan_Gaelle_
Mun_Jonas_Liu_Marco_Michel_Rosaura_Yang_Claudia
_Erin_Ingrid_Li_Natalia_Mao_Raquel_Sayaka_Tanula_
Aurélie_Victoria_Shen_Benedikte_Ng Kuok_Michelle

Obrigada pelas primeiras lições que me deram.
Tudo o que sou, tudo o que sei, é agora também vosso.

18.10.05

Nos meus dias de menina ruim irrita-me que tenhas superado tudo mais depressa do que eu. Melhor ainda: irrita-me que tenhas sido tu a decidir o fim, e a mim, para não variar, coube-me a coragem autoflagelante do decreto, que isto da distribuição de tarefas em casal também tem muito que se lhe diga.
Irrita-me. Sou vísceras e entranhas.
Nos meus dias de menina sensível magoam-me os esforços e empenhos que entrevejo desse lado do mundo que passou a ser o teu. Magoa-me a inversão súbita de papéis, o absoluto desamor.
Magoa-me. Sou emoção à flor da pele.
Nos outros dias, os que sobram da visão concentrada num umbigo que nem sempre tem história, a paz chega e sente-se em casa.
Fica o pedido expresso, a encomenda feita e já com portes pagos: que venham mais destes últimos!

meu pai

Sonhador.
Optimismo feito homem.
Apoio constante.
Ternura que nunca se esgota.
Exemplo.
Sorriso malandro.
Trabalhador incansável.
Refilão.
Pedra basilar.
Cúmplice.
Alegria diária, honesta, pura.
Fonte de energia.
Amor.

São estas as palavras que te fazem.
Hoje o dia é teu: Parabéns Pai!

17.10.05

que assim seja

Há três dias que não consigo despir o sorriso que tenho estampado na cara.
Há três dias que é impossível que o meu coração escureça.
Pequenos passos, como sempre.

14.10.05

olhai os lírios do campo


Pelo Teu amor,
Pelas Tuas graças,
Por me mostrares todos os dias que se for livre na Tua vontade, isso me basta,
Obrigada.

13.10.05

curiosidades

Vale a pena ler o que diz a vieira do mar sobre blogues femininos vs blogues masculinos.
Vale mesmo muito a pena ;)

O Lugar da Casa

Uma casa que nem fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.

Eugénio de Andrade

sentido_pequenos passos_eu_vontade_medo_ calor_ vocês_casa

12.10.05

mais forte do que eu

Pronto, confesso: acho que fiz uma asneira… acho eu… deve ser asneira porque estou com aquela falta de ar típica… raio de organismo este que responde a tudo!
Podia ter partido um prato (enfim, este mês já foram dois, não tarda há manif familiar…), podia ter mentido, sei lá, qualquer coisa assim de comum. Mas não: disparate que se faz, há-de ser bem escolhido, com repercussões duradouras, peso na consciência e a maldita falta de ar.
E assim me confesso ofegante sem lanço de escadas: mea culpa.

11.10.05

truques

Meto a chave à porta e abro devagarinho, a tempo de sentir as duas voltas e perceber que a casa está vazia.
Sabe-me bem entrar, respirar fundo, deixar o casaco aqui, atirar os sapatos para debaixo da cama e colar-me à janela, luzes apagadas, a ouvir a chuva mansa lá fora. De vez em quando acerto o meu tom à torrente do céu. Deixo-me escorregar até o frio do mármore me arrepiar as pernas nuas e espero, meia escondida, meia acordada, que o recorte da tua mão me venha afagar os cabelos.
Nos dias em que o som dos teus passos é mais rápido que o beijo prometido sinto o peso das horas na nossa vida: quanto tempo temos ainda que gastar antes de nos encontrarmos?

10.10.05

password

Basta um sorriso: rápido, descomprometido, inocente.
Eu sustenho a respiração e acelero-me em descompassos.
Não sabes que estou aqui, pois não?

Boa noite meu amor.

8.10.05

apostar-me

Foi a saudade do teu braço
e o olhar que já da tua luz me dói
trabalhei sem dar pelo cansaço
horas extraordinárias, foi
um dia que passou num furacão
um furacão que se amainou, só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias

E assim que volto ao meu lugar
reencontro com dor e prazer
o coração que fiz falar
à máquina de escrever a ver
ela a dar corda à máquina de amar
e um coração a se amainar só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias


Esta noite, aos primeiros sons da viola não houve fuga com um boa noite dito no correr da pressa.
Não me encostei ao jipe a olhar para as estrelas.
Não chorei.
Hoje adormeço no Teu abraço e prometo que não me volto a esquecer de dar corda à máquina de amar.

7.10.05

Takk


_hipnotizada_viciada_encantada_emocionada_rendida_
entregue_iluminada_grata_

mar

Vontade de te contemplar, serenamente, quase em segredo.

Está na hora, não está?

6.10.05

aprendizagem

Aprendi a falar de mim de uma forma quase desarmante. Poucas reservas e muitos desabafos. Aprendi-o porque vos tive por perto com vontade de ouvir. Porque de tanto me repetir percebi que já não me convencia a acreditar numa verdade racional - era preciso senti-la.
Hoje, por uma vez, o coração ouviu o que lhe disseste. Ouviu com atenção, respirou fundo, suspirou, encolheu os ombros e acabou a sorrir.
Num flash tudo fez sentido, sem ser preciso ir desencantar lugares-comuns que metam o tempo ao barulho.

5.10.05

«A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em movimento.»

O livro que me tem enchido os olhos nos últimos dias despejou-me esta frase no colo com quase tanta força como o título que me fez pegar nele e trazê-lo para casa: 'O Vendedor de Passados'.

Nunca venderia o meu, mas confesso que às vezes gostava de conseguir domar o comboio a meu bel-prazer... acelerar a fundo nas curvas mais dolorosas, em jeito de Alfa-Pendular que pára de quando em vez, e deixar-me ser um Regional profundo, apeadeirístico e lento, quando as recordações não me atraiçoam o coração...

Gostava mesmo!

3.10.05

acredito, profundamente...

...que o mundo está cheio de pessoas BONITAS!

:)

1.10.05

coisas que não interessam a ninguém

Gosto muito do mês de Outubro mas para ser perfeito perfeito, devia estar um bocadinho mais de frio, que já me vai fazendo falta o quente de uma caneca de chá nas mãos.

29.9.05

dúvida existencial

Como iogurtes de cenas que também servem para lavar o cabelo...
Lavo o cabelo com champô de frutas...
...
...
...
Estarei a abichanar?

28.9.05

Do início. Volto para trás. Os acordes são absolutamente familiares. A letra ainda não, como sempre. A estranheza inicial de um balbuciar titubeante e sôfrego afasta o que ouço do que trauteio. Insisto. Já está em mim, agora é inevitável, é uma mera formalidade aprender-lhe as manhas da linguagem. Insisto. Faz-me bem ouvir-te. Acompanhas-me, dizes-mo sem rodeios, e eu acredito. Assim, de forma simples, como deviam ser todas as coisas realmente importantes.
Não gosto que a música doze comece e sou mais rápida que o futuro. Apaziguo-me. Respiro fundo. Sei que esta ainda não é a minha paz, mas é bom deixar-me envolver.

26.9.05

a gerência deseja-vos uma óptima semana

A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida.

(roubado com desfaçatez ao mestre Vinicius e à vieira do mar)

25.9.05

as palavras desejadas (?)

I remember thinking
Sometimes we walk
Sometimes we run away
But I know
No matter how fast we are running
Somehow we keep
Somehow we keep up with each other

...
Do what you will, always
Walk where you like, your steps
Do as you please, I'll back you up

24.9.05

mysterious ways

coragem_exemplo_sonho_persistência_horizonte


Para mim, o dia passou-se em sorriso.

Pela tua amizade, por tudo o que tenho que te agradecer neste 'mundo de silêncios que é o nosso'.

Para ti, que seja o primeiro dia.

22.9.05

21.9.05

equinócio

Último dia de Verão, o fim anunciado da silly season, das cores, dos corpos, dos risos altos.
Penso e repenso na conversa desta manhã, na clareza com que me disseste que às vezes, quase que por defeito do nosso percurso, vivemos mais numa cultura da insatisfação do que da exigência.
Será? Não sei o que mais me amedronta: concordar e perceber que o contentamento não tem que ser necessariamente algo de negativo, ou fincar o pé e continuar à deriva…
Mudo outra vez de pele, porque quero, porque preciso, porque na minha fragilidade sinto o reconforto dos gestos insignificantes com que me dou ao mundo.
E estou cansada. Não sei exactamente de quê, mas incomoda-me esta sensação permanente de dolência. Hoje é o último dia, gostava de dizer. É mesmo o último. Sem promessas de mudança, propósitos ou juras. Só o último dos que passaram, para que amanhã possa acordar no primeiro de todos os outros.

20.9.05

shame on me

Estar à beira do precipício é sentir-me num estado melancólico de algibeira e pensar...

- O que é que me animava agora?
a) tomar café com um amigo;
b) ir ao cinema;
c) comer qualquer coisa com MUITO chocolate;
d) comprar uns sapatos.

...bater no fundo é optar pela d)

Eu tento, eu juro que tento, mas é mais forte do que eu e nunca funciona.
Prendam-me em casa, amarrem-me as mãos, roubem-me a carteira, mas tenham a bondade de me auxiliar e, sobretudo, não me perguntem por quantos estados melancólicos destes eu tenho passado nas últimas semanas...

19.9.05

quase retórica...

Em jeito de cacto infiltrado no canteiro de hortênsias azuis, será possível que no meio de um estado de serenidade, ande a crescer, mais depressa do que se imaginava, uma subtil e desconcertante inquietude?

16.9.05

Tenho frio nos dedos dos pés.
Só ainda não percebi se é o meu corpo que recebe o Outono pelas extremidades, ou é apenas a falta do teu calor.

15.9.05

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

in Passagem das Horas, Álvaro de Campos

Encontramo-nos daqui a nada.
1 beijo e um abraço apertado

13.9.05

Baralhei e voltei a dar. 9 meses depois. No tabuleiro virado pelo chão não sobrou nenhuma peça... e ainda bem.

Baralhei e voltei a dar. Sem pressas, até não haver mais cartas.

Sorrio mais e mais, digo que sim, abraço com força, choro sem vergonha.
Na cabeça, um refrão de palavras re-ouvidas a fazerem todo o sentido: é preciso largar para amar melhor, é preciso largar para encontrar a felicidade.

Baralhei e voltei a dar. Larguei mais do que esperava. Cortei amarras, guardei os portos seguros e abri um novo mapa, desta vez sem rotas traçadas.

Baralhei-me. Voltei a dar-me.

6.9.05

NEXT STOP!

E se antes da próxima estação eu parasse na casa da partida?

interlúdio

(nunca pensei acordar tão contente por ver chuva!)

Olá. Chamo-me Joana e estou aqui hoje porque sinto.

Não há memória de ter havido uma bruxa na família, e ainda assim sou terrivelmente premonitória. Fujo a sete pés de pisa papéis estilo 'bola de cristal', não vá a tentação apoderar-se de mim, sou 'étnica qb', nas palavras da minha querida mãe e tempos houve em que o fascínio da saia a arrastar pelo chão foi grande. Fiz uma cura com doses regulares de pragmatismo (manhã e antes de deitar, com um grande copo de água), mas esqueci-me de ler os efeitos secundários.

5.9.05

tenho medo

Às vezes pergunto-me por que serei tão tola, tão infantil, tão sugestionável... Que raio de feitio este que me repete consecutivamente: 'és feliz, és feliz, és feliz' e desconcerta-me a cada passo, como se todas as minhas decisões fossem um teste e a felicidade que sinto ser minha não passasse de um contentamento pobrezinho, uma alegriazeca momentânea e inconsequente.
Dia errado o de hoje. Encontrei-me com quem não quis, recebi mensagens que não me encheram o coração, senti-me fora da minha pele, patinho feio e inútil. Disparatei para dentro e para fora e consegui chegar à noite a sentir-me triste. Persegue-me a sensação do comboio que seguiu sem mim, e era o último. A Joana racional salta logo em defesa do porto seguro das convicções: refila, argumenta com lógica, expõe todos os pontos de vista com clareza e discernimento. Finda a retórica, sobra o mais fundo de mim, o tal líquido avermelhado no fundo do frasco de vidro. Vê-se à transparência, mas não se identifica logo. Salve-se por esta noite o invólucro e pode ser que o líquido não evapore.

2.9.05

arrisco

'Nem sei o que me aconteceu
Por que calhou ser eu
A ter no barco alguém que eras Tu
Só sei do antes e o depois
Do antes sensato e o depois a Teu lado, peixe meio-alado a voar... no fundo do mar'

31.8.05

muda de vida

Renovada e revelada ouso dizer e repetir para mim mesma aquele que tem sido o mote deste ano:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
(...)

Luís Vaz de Camões

30.8.05

'Passaste e segredaste-me: - Vem!'

Escrevo sobre aquilo que sei à partida que não conseguirei contar. Escrevo de coração cheio, profundamente agradecida e pacificada. Escrevo com um enorme sorriso na cara, as mãos cheias de pequeninos golpes, o corpo cansado e feliz.
Sinto que pela primeira vez na minha vida a entrega foi total. E da entrega veio a dádiva imensa das cumplicidades, do serviço, da partilha de um projecto, de espaços em comum, angústias, silêncios tantos. Na gratuidade que só aqui reconheço, estreitei laços nos passos que dei em volta de Ti, porque de mim fazes parte.
Não contei as estrelas do céu, nem as chamei pelo seu nome, mas percebi que só assim faz sentido.
É este o Teu caminho e é por aqui que quero caminhar.

18.8.05

fechei o tasco

para balanço
para férias
para o que der e vier

Regressarei no final do mês.

17.8.05

28

Tentei não pensar, mas é inevitável... Há dez anos passei o último aniversário com o meu avô. Desde então, idade dita adulta, passeei esta data por Santiago de Compostela (e como me lembro de cantarmos nas escadas da catedral!), pelo calor de Santo Antão, a minha querida Oxford, Reriz perdida no fim do mundo... Passeei a data, as pessoas, os sonhos, os amores, os projectos. Passeei-me a mim mesma. Acreditei na verdade dos meus gestos e fui-me fazendo pessoa.
Gosto do número redondo que ganhei hoje.
Quero, muito, ser feliz.

15.8.05

14 de Agosto de 2005

Não consigo explicar o que me andou a passear ontem da cabeça para o coração e do coração para a cabeça.
Senti-me única, especial e ao mesmo tempo tão pequenina na imensidão que é só Tua.
Obrigada por me fazeres acreditar que a dúvida também é rumo.

Dici che il fiume
Trova la via al mare
E come il fiume
Giungerai a me
Oltre i confini
E le terre assetate
Dici che come fiume
Come fiume...
L'amore giunger
L'amore...

Miss Sarajevo, U2

12.8.05

alive and kicking

Depois de mais uma contradição de mim mesma, de um dia cheio, de um Baileys nocturno para comemorar a resolução do dia, de uns quantos bocejos de incompreensão e de uma noite de sono descansada, acordei cheia de genica (ainda que o termómetro do carro insista em não descer dos 40º...) e a sentir-me de bem com a vida.

:)

11.8.05

recomeço

Ontem adormeci a chorar. Talvez porque os meus joelhos não gostem de dias de chuva, talvez porque ainda estivesse a ressacar da paragem de digestão da véspera, talvez por ter visto uma série de televisão excelente para o puxar da lágrima... ou talvez não, como diria a princesa dos olhos azuis.
Adormeci feliz e amedrontada. Adormeci perdida, sem norte nem porto seguro, com a imagem da folha em branco, palavras claras, a bailar-me no espírito.
Diz-me um querido amigo que o futuro foi já ontem, ali no virar da esquina entre o amor e o desafio da relação. Digo-lhe 'nim', sorrio, e deixo-me embalar.
Hoje é mais um daqueles dias em que me sinto a pairar por aí. Insisti, consegui, desisti porque deixei de acreditar, porque o mais fundo de mim prefere o trapézio sem rede.

'A vida é tão rara. A vida não pára...'

9.8.05

coisas que me fazem bem (2)

Estar de janela aberta para o jardim em pleno mês de Agosto e sentir o cheiro bom a terra molhada que vem lá de fora.

coisas que me fazem bem (1)

Ligar o computador mal acabo de chegar à editora, sacar a classicfm dos favoritos e começar o dia a ouvir a Pastoral.

8.8.05

?

Falei dele este fim-de-semana, personagem de livro que não me fascinou, talvez por isso mesmo, por não O conceber confinado em meia dúzia de páginas com cheiro a exotismo. Senti-O nos sorrisos que me acompanharam, nas saudades, nas imagens que me encheram os olhos e me tranquilizaram.
Não percebo como, ultrapassa-me, transcende-me, desorienta-me, mas no meio de um ano tão cheio de mudanças, continuo tranquila. Espero, com um nó no estômago, o coração pequenino e vontade de ter colo. Não cruzo os braços nem me desespero em ansiedade, espero apenas.

5.8.05

ora bem, ora bem...

Temos o país a arder e um fim-de-semana pela frente que se queria campestre qb: andanças pé-de-chumbo lá para os lados de S.Pedro do Sul, Sendim e um longo caminho pela frente ou alternativas com cheiro a mar, não vá o diabo tecê-las?

4.8.05

hoje é dia de...


Vermeer

RAPARIGA COM BRINCO DE PERÓLA
às 19h18, no Jardim Botânico, pelos Fatias de Cá

O romance foi uma surpresa boa de uma autora, para mim, até então desconhecida: Tracy Chevalier.
Do filme guardei, estranhamente, mais imagens sonoras que visuais.
Vejamos a peça, e que os 40 graus de hoje não estraguem o espectáculo!

3.8.05

no gira-discos...


Leslie FEIST

Um mix urbano a lembrar Kings of Convenience, Lisa Ekdahl e Aimee Mann.
Muito bom.

E agora?

Agora, sorrio às ironias da minha vida, ao rir de palanque, à plateia que aplaude as convicções pés-de-barro do ‘nunca mais vou por aí’.

Agora, vivo.

é também por isto que a retórica me fascina…

In a manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don’t understand
How love in silence becomes reprimand
But the way I feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won’t do
In this life that we live
We only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrificed
So in a manner of speaking
I just want to say
That like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
Give me the words
Give me the words
Give me the words

Winston Tong

2.8.05

Feeling quite musical am I :)

Hoje é dia de...
wim_mertens_classicfm_ludovico_einaudi_coldplay_nouvelle_vague

Tenho a comunicar que o balanço de final de manhã deu-me um empate entre o amigo Wim com 'And bring you back' e o 'Love will tear us apart' na versão bossa nova.

Aceitam-se votos, comentários e preferências.

norte

Roubando o (des)norte a um moinho de sonhos, quero ter o direito de me contradizer… todos os dias, se preciso for…

Assim vou andando e sentindo neste querer ser árvore ou outra coisa qualquer que tenha pé no chão e raiz bem sulcada na terra, e umas folhas esvoaçantes por aí, a andarilhar, a ver o mundo, a ser mais com ele e por ele do que a pequenez do meu quintal.

Agarras-te à hora
Em que o tempo não passou
Mergulhas nas cores
Que a loucura te emprestou
E quando te vês para lá do espelho
Encontras a solidão

Descobres o Mundo
De quem tem pouco a perder
E sobes às estrelas
Que ontem não podias ver
E perdes o medo de estar só
No meio do multidão

Tradições
Atrás de contradições
Fizeram-te abrir os olhos
Podes dizer:
Eu... sou


Jorge Palma

1.8.05

Sinto-me…

…com um brilhozinho nos olhos,
…com o coração pequenino,
…com um sorriso fácil na cara.

Não me interessa que o dia esteja feio, que não haja sol e que as minhas férias estejam à distância de uns binóculos…
Hoje, sinto-me simples e descomplicadamente feliz.

29.7.05

visões

Ando a precisar de lavar os olhos.
Literalmente.

26.7.05

Tenho-me lembrado das minhas viagens. Não das estadias, dos lugares ou das pessoas. Nem sequer dos momentos, só das viagens em si, do caminho que é necessário percorrer para a passagem de um local para outro. Por inúmeras razões tenho viajado bastante sozinha. Carro, comboio, autocarro, ferry, avião e um sem número de percursos, mais ou menos repetidos.
Dei por mim a fazer contas à vida e os últimos oito anos foram pródigos em quilómetros. Cada quilómetro recheado de música, de pensamentos, e, acima de tudo, de muitos olhares. Descobri que gosto de viajar sozinha porque ter tempo para olhar é um privilégio. Gosto de me sentar à espera de um voo e deixar-me envolver pela vida dos outros, bem camuflada atrás do livro que vem sempre comigo e que me empurra, ele também, para outras vidas. Gosto de passar pelos mesmos lugares em diferentes alturas do ano e em diferentes horas do dia. Gosto de reconhecer curvas e identificar as mudanças. Gosto da expectativa do novo quando o destino é desconhecido, e do desejo do abraço e do reconforto de um regresso ou de uma espera.

Ficar? Voltar? Partir?
Sinto que nunca vou saber a resposta… nem sei se quero…

25.7.05

alvoroço

(resumo dos últimos dias)

Sonoro e sentido.
Poder ser de dentro para fora e de fora para dentro.

coração_madalena_pele_futuro_surpresa_medo_
reviravolta_mansidão_tu_entrega_
cores_eu_mergulho_palavras_partida_branco_vida

21.7.05

coisas em que não acredito (1)

- Produções independentes;

- Rimel que aumenta o volume das pestanas;

- Prazos de validade;
...

20.7.05

coçadelas

Prurido [prurídu]. s.m. (Do lat. pruritus). 1. Sensação que se experimenta ao nível da pele ou numa parte do corpo, que provoca o desejo e a necessidade de coçar…

Estou, basicamente, cheia de comichão, carregada de borbulhas incómodas e inestéticas que não ficam bem de vestido, não gostam de morangos à sobremesa nem confraternizam com ácaros…

(isto dá uma irritação que não vos digo nem vos conto…)

Paciência com a je nos próximos dias e o mercuriocromo promete um regresso estival em pleno, longe do efeito sonolento-lamechas do Zyrtec.

Na dificuldade em perceber por que razão só o desconhecido conforta, faço do amor a minha arma de arremesso e deixo de temer a vertigem.

Passos pequenos demais para um salto que se queria longe? Quem sabe…

da noite

Prometi a mim mesma que ia chegar a casa cedo, sentar-me ao computador e organizadamente preparar a aula de amanhã sobre o uso do conjuntivo.
Dei por mim deitada nos telhados a olhar mais para o pólen do que para as estrelas, a rir-me do verde das nossas mãos cansadas de trepar as grades, a gozar a sensação de interdito já fora do prazo.
O conserto ficou prometido, ainda que faltem as peças ou que não tenhamos coragem para as ir procurar.

Amanhã, o dia é melhor.

18.7.05

fim do dia de hoje

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

Sophia de Mello Breyner Andresen

17.7.05

sentido

«Ter um sentido para a vida é passar a vida, continuamente, em busca dele.»

Palavras ditas esta tarde, pelo Filipe, lembrando um filósofo grego.

Parece paradoxal. Parece frustrante e pouco compensador. Parece a certeza da eterna insatisfação. Mas ao mesmo tempo, e de forma estranha, é apaziguador. Afinal não sou assim tão estranha por continuar à procura... talvez seja este o segredo: gozar a busca do sentido maior vivendo as pequeninas coisas na sua inteira plenitude, porque só da parte nasce o todo.

Em todos os sentidos.
Com todos os sentidos.

ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

15.7.05

um ano depois

Faz hoje um ano que abri a porta.

Com uma precisão quase cirúrgica, um ano que se divide, que me divide, meio cheio, meio vazio, partido ao meio, claro escuro.
Faz hoje um ano que por razão nenhuma me sentei aqui e brinquei às palavras.
Já houve amuos, desistências, surpresas, mudanças de visual, encontros, descobertas e desencantos.

Continuo por cá, sem prazo, enquanto fizer sentido.

A este sítio, agradeço o regresso à escrita.

13.7.05

could you please repeat?



When you try your best, but you don't succeed
When you get what you want, but not what you need
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse

When the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
High up above or down below

When you're too in love to let it go
If you never try you'll never know
Just what you're worth
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

Coldplay

12.7.05

amazing grace

É ver o teu sorriso de mãe-menina logo pela manhã e dar-te um abraço apertado - Parabéns!

É receber tanto de quem sinto que não me deve nada (e dever é uma palavra feia, bem sei, mas é assim que as coisas são...)

É entregar-me à vida.

7.7.05

angústia

Há duas noites que mal durmo. Ando angustiada. Preocupam-me mais as decisões daqueles que amo do que as minhas. Não sei se é bom ou mau, sei que sofro com isso. Sinto-me incapaz de transmitir força, de falar de coração aberto, de confessar (olhos nos olhos) o medo da distância, da partida, da solidão, da perda, da dúvida, sem me achar estupidamente egoísta.
Sinto-me a pairar.

6.7.05

«o cume do coração»

Título roubado. Não me importa. Gostei do eco que fez em mim: o cume do coração. Da planície terra-a-terra é um longe assustador. Qualquer coisa maior e uma escalada até lá chegar acima.

5.7.05

passar os dias a verso


Fatima Ronquillo

Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
– mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade

da bela língua

Se o vazio não tem peso, como é que pode ser insuportável?

4.7.05

às voltas do mundo

É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.

Nuno Júdice

2.7.05

Tarefa do mês:

- ligar o descomplicómetro.

30.6.05

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Álvaro de Campos

pó de giz

Amanhã quero ter um sorriso aberto.
Quero reaprender a falar devagarinho e com as sílabas todas (sobretudo as últimas, átonas por excelência e que nunca se ouvem).
Quero dar as boas-vindas aos olhares que ainda não conheço com tanta verdade, que na tradução simultânea que só o gesto consegue ter, se ouça: estou aqui para vocês.

27.6.05

até

Sou lágrima fácil. Assumo. Fiz um esforço grande para não me debulhar quando o Anakin Skywalker se assumiu pelo lado negro da Força e renasceu Darth Vader. Marejam-se-me os olhos quando ouço versos de Camões no novo anúncio da PT ou quando me deixo embalar pelo Clair de Lune.

Fui lágrima fácil porque ontem me disseram que era uma menina muito especial. Ouvi-o com ternura, acreditei. Disseram-me que era uma boa menina. Tentei acreditar, talvez seja... tenho dias... enfim, dei-lhe o benefício da dúvida mas chorei de mansinho porque percebi que a tristeza profunda pode ser libertação.

E entre as minhas mágoas doridas lembrei-me de uma tirada final da Carrie Bradshaw no Sexo e a Cidade, que de tão óbvia puxou a lágrima fácil: quero e tenho o direito de ser amada por inteiro.

De ti para mim, de mim para ti, até que o nós exista.

26.6.05

rosas, rios e manhãs claras

Não houve versos urgentes como este nos últimos dois dias. Não houve nada de incrivelmente novo, fantástico ou avassalador. Os dias existiram. Assim. Houve o primeiro mergulho no mar (quente!) deste ano. O conhecer a doçura das pessoas importantes para pessoas importantes da minha vida. Um café de fim de tarde para ter mais uma vez a certeza que me conheces bem demais e a serenidade com que ouvi estas palavras: uma relação é amor se nos dignifica.

25.6.05

21.6.05

desurbanidades

Deitar-me de costas no chão. Uma camisola grossa. Acender um cigarro. Passar esta noite a olhar para a lua brutal que está lá fora. Em silêncio. Em conversa.

Vens?

20.6.05

pois

Ele há dias em que a vida precisava mesmo era de um serviço de tradução e legendagem.
Tenho dito.

19.6.05

não havia necessidade...

Uma menina sorridente e impregnada de ar profissional apressou-se a explicar-nos à entrada do balcão:

«- A vossa fila é a K. É simples: sobem as escadas e vão seguindo as letrinhas, que estão por ordem alfabética, o K está lá para o meio. Depois é só seguirem os númerozinhos.»

17.6.05

revelação frutífera

(com uma taça cheia de caroços à frente e olhar guloso)

As cerejas são como as pessoas: cristalizadas não têm graça nenhuma.

retrato


Adaptado do cartaz do 6º Salão de Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada

menina_pé-ante-pé_boneca_anjo__voo_parafusos_terra_chão_asas_olhar_longe

15.6.05

só tu

Seguras-me na mão. Desenhas-me uma festa pelo cabelo e dizes baixinho: '- Já passou'

Procuro os teus olhos. Encontro-os depressa e posso serenar antes do sono profundo: estás comigo.

Acordo-te de noite. Não contenho o soluçar. Entras sem acender a luz. Sentas-te à beirinha da cama e abraças-me em silêncio.

Se eu poisar a cabeça nos teus joelhos, promete que me sussurras ao ouvido: '- Vais ser feliz!'

13.6.05

mais perto

«Ou damos o que temos, ou deixamos apodrecer.»

As palavras são da Madre Teresa de Calcutá, pela voz do Nuno. Num fim de tarde apaziguador reencontrei um bocadinho do silêncio que me andava a fazer falta. No dia em que o meu poeta maior se despediu, senti-as mais verdade do que nunca. Dar o que temos cá dentro, o que temos de material, o que sonhamos. Dar testemunho. Dar descaradamente, com toda a lata e desfaçatez que tantas vezes não ousamos sequer experimentar. Dar porque sim, porque só assim faz sentido.

Adeus


Há quase um ano abri este blog com um poema teu, 'o' poema.
O sorriso que me tem acompanhado nos últimos anos, que sei de cor, que escrevo vezes sem conta só para olhar para as palavras que saíram de ti e já são tão minhas.
Hoje de manhã, quando soube que já não estavas entre nós, fiz o que me ensinaste: sorri e deixei que a porta se abrisse mais um bocadinho.

Obrigada.

12.6.05

sem comentários

Pior do que a neura dominical, causada única e exclusivamente pelo facto de ser domingo, é abrir a janela e ouvir a música da carrinha da Family Frost...
Confesso que nestas coisas sou mesmo primária: que irritação!

10.6.05

ralações


The Book of Bunny Suicides, by Andy Riley

...ou o que me apetece fazer quando a dor de cabeça ataca e o migraleve acabou.

9.6.05

olhó fim-de-semana fresquinho!

é fruta ó chocolate!
é pró menino e prá menina!
é filosofia de ponta!

8.6.05

jantares de Verão

- 1 fatia de queijo Feta
- 3 tomates chucha
- sal qb
- muitos óregãos
- um fio de azeite
- vinagre balsâmico

Se fechar os olhos entre duas garfadas, arrisco-me a voar para um sol com casas brancas enfileiradas entre os azuis do céu e do mar...

sou mesmo eu?

Dizer que sim à primeira... pensar depois, e continuar com vontade de dizer sim.

7.6.05

margarida


Hoje, no teu dia, faço minhas as tuas palavras: QUERO-TE BEM!

Sussurras-nos aos ouvidos com o quebrantar de voz que é tão teu. No embalar do carro já é noite e há uma ponta de melancolia entre todos. Há silêncios, há o fumo do cigarro pontual, a viagem que corre sem pressas, o sono de um dia. Mais um. Amanhã vai estar calor outra vez. Vou lembrar-me de tudo, de todos os exemplos com que me vais apontando o caminho sem dar por isso. Conheces-me bem as manhas. Só lá vou com o exemplo, não é? Nada de teorias... Ver para crer. Quem está de fora é que vê a diferença... Será mesmo? Tu nem vais dar por isso, confia em mim... De olhos fechados? Sabes confiar de outra maneira? Não. Então de que é que tens medo? Tenho mesmo que te responder? Talvez já esteja na hora de saberes a resposta... E se eu ficar triste com o que descobrir? Estás a andar à volta de ti mesma e continuas sem me responder... Desculpa... Dá-me a tua mão. Levas-me contigo? Queres vir? Onde vamos? Não sei... escolhe tu agora.

5.6.05

Alvará

No rescaldo bom de um fim-de-semana que adormeceu e acordou de olhos postos no mar, ficaram a cumplicidade dos medos, da solidão, da dúvida: virá?

Virá
Trocando olhares, dando o que falar
Sedenta e meiga quando me encontrar
Cruzando mares só pra me abraçar
Cruel sem dor, seja quem for
Essa pessoa vai me condenar
Vai me prender, me investigar
Me confiscar pro amor
Interrogar de amor
Me confinar no amor
Alimentar de amor
Meu alvará de amor
Quando então quiser me libertar

Que liberdade?
Faz minha vontade
E deixa como está

Jorge Aragão

3.6.05

sexta-feira é dia de rumar...

...ao sul, com sol e sal.

Até já!

2.6.05

EU VOU!

sometimes you can't make it on your own

quando os muros vêm abaixo
quando as palavras deixam de ser difíceis
quando a vergonha não faz sentido
é tão simples, e tão bom.

1.6.05

:)

Porque hoje é dia da criança, fiz gelado de morango e calcei uns sapatos às riscas cor-de-laranja.
Por cá, deixo-vos a imagem que tem povoado o meu ecrã.


Robert Doisneau

short story with no happy ending

Trocámos mensagens.
Trocámos telefonemas.
Trocámos olhares.
Trocámos o dia pela noite.
Trocámos conversas.
Trocámos passeios.
Trocámos jantares.
Trocámos os corpos.
Trocámos viagens.
Trocámos receios.
Trocámos projectos.
Trocámos gritos, medos e anseios.
Sem querer, até trocámos o amor.

31.5.05

a meio do dia

Estado: VAZIO
Virtude: leveza
Defeito: solidão
Conselho: ser autofágico

desejo

gostava de ser mais de mim. ou talvez melhor. ser mais e melhor de mim.

29.5.05

EPIFANIA

(...) de epipháneia, acto de se mostrar, aparição do dia (...)

Menos do que um milagre. Mais do que incerteza. Igual a serenidade?

28.5.05

personagens de todos os dias


Staring girl, by Tim Burton

"I once knew a girl who would just stand there and stare.
At anyone or anything, she seemed not to care."

27.5.05

um post roubado...

... ao palombella rossa, a dizer-me toma lá que já almoçaste, embrulha, esconde a cabeça na areia miúda e não digas que vais daqui:

«Pedimos perdão e somos capazes de o dizer sem embaraço perante os outros. Mas temos uma séria dificuldade em dizer o quê e quem perdoamos. Dar perdão profundo, apagando todo o vestígio de ressentimento, é talvez o mais exigente dos gestos diante da experiência da dor e da ofensa. A sua dificuldade é a expressão do nosso fechamento.»

(no fim disto tudo, só mesmo um enorme e profundo suspiro)

P.M.P.

Entristece-me que haja pouca frontalidade nas pessoas. Tenho pena que pelo sossego do espírito próprio não haja coragem. Incomoda-me brutalmente o let's wait and see, quando é humanamente impossível que o olhar e a espera sejam unívocos.
Se vivemos uns com os outros, por que razão não conseguimos também viver uns para os outros?

25.5.05

interregno


Milão, Abril 2005

self-portrait

  • 30ml, 50ml,100ml, 1000ml.
  • Antisséptico. Utilização frequente no tratamento de queimaduras e ferimentos.
  • Embebido em algodão nas aplicações locais.
  • Não ingerir e não reaproveitar a embalagem.

24.5.05

à flor da pele

Ando assim. Agridoce, bipolar, com tudo o que me balança da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à distância de uma lágrima demasiado fácil. Tudo à flor da pele. Rio alto com a mesma facilidade com que me desmancho num pranto e nada disto me parece fazer confusão porque me sinto incrivelmente leve.
É este o caminho?

versos da meia-noite

Você deságua em mim e eu oceano

Djavan

20.5.05

preciso de ver o mar

Há quase um mês que não vejo, não ouço, não estou sequer perto do mar.
Faz-me falta.

«Rodeia-me o mar, invade-me ainda o mar. Tudo é excessivamente salgado: a minha mesa, as minhas calças, a minha alma - convertemo-nos em sal. Já não sabemos o que fazer nas ruas, no meio de gente sempre apressada, nas lojas, perdemos os hábitos, esquecemos as palavras mais simples no acto de comprar e vender. A nossa mercadoria tem sido composta de algas reluzentes, serpentinas ou foliáceas, pétalas enrugadas, mariscos avermelhados. O sal da espuma salpicou-nos de tal modo e impregnou-nos como se fôssemos uma casa abandonada e pelas casas permanece apenas um cheiro de salmoura.»

Pablo Neruda

19.5.05

A noite, pelos vistos, também não.

'tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar...'

Hoje não está a ser um dia óbvio.

esperar ou agir?????

18.5.05

da musa clio


Milão, Abril 2005

Gosto de laços, botões, velcro, fita-cola, molas da roupa, clips, agrafos, colchetes, fechos, fivelas.
Gosto de me sentir enlaçada, embora me transforme numa criaturinha arisca e pouco simpática quando dos laços nascem nós e me sinto simplesmente presa.

Esta linha e esta agulha têm dono:
A Aquarela, por me lembrar todos os dias que se os nós quebram, os laços permanecem.
A Scherazade, minha irmã, por me descompassar o coração com a saudade que ainda nem chegou.

17.5.05

non dirò niente


Milão, Abril 2005

Uma das sobreviventes ao meu desaire fotográfico.

The Aquatic Life with Steve Zissou



Surreal and overwhelming.
(cada vez gosto mais de ver este senhor na tela)

16.5.05

15.5.05

1, 2, 3, 4...

...tenho uma pedra no sapato!
E mais uma surpresa boa neste fim-de-semana. É incrível como estar com atenção faz toda a diferença. TODA.

13.5.05

os nomes das coisas

Continuam, para mim, a ser um mistério.
Se lhes damos voz, letra, palavra, forma, trazemo-las à vida, tornamo-las presentes.
As coisas existem na medida da nossa denominação, na percepção finita que cada um tem da sua existência.
Mas se deixamos de as nomear, se as guardamos e votamos ao desuso, o caminho não é o inverso.
Os nomes que damos às coisas passam a ser as coisas elas mesmas e é muito mais difícil diminuir o vocabulário...

11.5.05

hoje

Andei numa correria, não fui especialmente produtiva, mas senti na pele a chuva boa do verão-quase e uma vontade forte de fazer cada vez mais e melhor no meu pequeno mundo paginado.
Agradeço a confiança na teimosia desta maçarica, o entusiasmo de quem me acompanha todos os dias e a rede segura e paciente de alguém que desconfio não ser deste mundo.

10.5.05

simples

Hoje o céu esteve azul cobalto e a lua de que mais gosto (aquele sorriso de gato matreiro e finório, sempre à espreita) anda lá por cima.
Fui dar um beijo de boa noite à menina dos meus olhos.
Sinto o perfume ténue do meu cabelo lavado há pouco, o corpo cansado e a sensação de que vou dormir em paz.
A felicidade podia ser só isto...

9.5.05

on/off

Se toda a metafísica do chocolate não se reflectisse na balança, garanto-vos que esta noite ia ser a verdadeira orgia do cacau. É dar de beber à dor meus amigos, é dar de beber à dor...

luz verde

If I could stay...
Then the night would give you up
Stay... and the day would keep its trust
Stay... and the night would be enough

Faraway, so close

Stay... then the day would keep its trust
Stay... with the demons you drowned
Stay... with the spirit I found
Stay... and the night would be enough

U2

Posso atravessar? Mais alto, sabes bem que daqui não te ouço.

8.5.05

pode alguém ser quem não é?

E depois? Conversa, instrospecção, esperanças de mudança, desilusões, é suposto acreditar que?

aqui e agora

Fugas e compulsões. Defeitos, faltas e incapacidades. Dúvidas, medos, bloqueios. Como toda a gente? Talvez...
Preciso de me descentrar e assumir o radicalismo destas palavras:

«Só o presente existe. Ou sou feliz hoje, ou não o serei nunca. Ou trabalho hoje, ou nunca trabalharei. Ou vivo hoje, ou serei apenas um morto que sonha e que recorda.»

José Luís Martín Descalzo

7.5.05

fora de horas

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca


A poesia tem-me feito falta. Não gosto da minha vida em prosa e nunca achei graça às narrativas fechadas.

6.5.05

filosofia marreta


It's not that easy bein' green;
Having to spend each day the color of the leaves.
When I think it could be nicer being red, or yellow or gold-
or something much more colorful like that.

It's not easy bein' green.
It seems you blend in with so many other ordinary things.
And people tend to pass you over 'cause you're not standing out like flashy sparkles in the water- or stars in the sky.

But green's the color of Spring.
And green can be cool and friendly-like.
And green can be big like an ocean, or important like a mountain, or tall like a tree.

When green is all there is to be
It could make you wonder why, but why wonder why?
Wonder, I am green and it'll do fine, it's beautiful!
And I think it's what I want to be.

Kermit, The Frog

changing lanes

Anunciam-se dias de grandes mudanças na blogosfera: o mercuriocromo fartou-se de estar fechado no frasco de vidro com rolha de cortiça e resolveu sair à rua.
Serão dias de transformações intensas, muito verde e muita primavera à roda destas linhas.
(e muito provavelmente, poucas horas de sono, que isto de se decidir mudar de template e ser uma maria-perfeccionista dá mais trabalho do que julgam!)
Aceitam-se críticas e sugestões!

3.5.05

banal extra

Tenho andorinhas pretas no beiral das minhas cartas.
Sete e sete são catorze com mais sete vinte-e-um...
Muito, pouco, nada?

movie quote (1)

'A vingança é uma forma de luto preguiçosa.'

Não sei se não será exactamente o contrário: uma forma de luto apressada, que por não deixar morrer prefere matar noutro lado.
Estar de luto, para mim, não dá espaço à vingança. Deixa-se morrer um bocadinho de nós com quem perdemos e daí se renasce, pé ante pé, aprendendo a suportar a ausência e a ouvir o silêncio. Uma outra forma de amar?

1.5.05

coeur, fais ton chemin

Esta música deixa-me sempre a sorrir. Venham de lá esses momentos de desesperança e é só carregar no play! Brindo ao mês que terminou com um fim-de-semana fantástico, e a um novo mês que começa, quem sabe a um novo capítulo...

Coeur, tu est tellement fou
Tais-toi, mon coeur perdu

Je n'ai plus rien
Q'un seule désir

Laisser mon rêve
d'amour partir

Viens, mon petit bateau
Flotte, comme un berceau

Je veux seulement oublier
Emballe-moi sous les nuages
Doucement vient le soleil
Bonheur après l' orage

d'Amour
Toujours
Les jeux
d'Amour

Coeur, fait ton chemin
Oublie, tous les chagrins

L'Amour est beau
Il est partout

Il faut chercher
Rêver, sourtout

Viens, encore une fois
Prends moi dans tes bras

Je veux seulement oublier
Emballe-moi sous les nuages
Doucement vient le soleil
Bonheur après l'orage

in Cinema, Rodrigo Leão

29.4.05

o abraço que ficou por dar...



Lost in translation?

28.4.05

mezinhas

Há por aí alguma receita milagrosa que cure corações pequeninos de tão apertados?
Hoje sinto-me triste.

eu, eu e EU

Não tenho um gosto especial por Jovanotti, mas sempre gostei de ouvir esta expressão em italiano, dita devagarinho, com as sílabas todas bem abertas: L’OMBELICO DEL MONDO.
O umbigo do mundo é quase sempre confundido com o nosso próprio umbigo: os nossos gostos, os nossos interesses, as nossas expectativas, os nossos futuros e, sobretudo, as nossas necessidades. Olhamos o mundo de fora para dentro, centramo-nos no que simplesmente nos dá gozo e deixamos cair por terra a dimensão do outro. É uma espécie de hipnose em que espiralamos à volta do nosso umbigo, na esperança de que a satisfação de necessidades consiga transformar-se em verdadeiro querer. Conseguirá?

27.4.05

estupidamente a correr

Porque sim.
Porque é suposto.
Porque conhecer muita gente, fazer muitas coisas, visitar muitos sítios, ouvir muita música variada, ler imensos livros, ver todos os filmes e escrever muitíssimos emails chega quase a parecer norma. Porque a correria diária é um culto. Uma forma de estar instituída e xenófoba.
Se não corro não aproveito. É preciso encher os dias e não ter uma agenda é pecado.
Hoje cheguei a casa e dei por mim a pensar (com preocupação, note-se) que não tinha nada combinado para esta noite.
Envergonho-me de tamanha estupidez.
Quero voltar a gozar o silêncio e lembrar-me que posso ir à janela simplesmente olhar para as estrelas.
Porque sim e sem hora marcada.

21.4.05

até já

Vou viajar.
Escrever estas duas palavras já me arranca um sorriso.
Fechar os olhos e imaginar-me num qualquer sítio outro faz-me sonhar.
Ao longo dos anos tenho aprendido (com esforço, confesso...) a diminuir a minha bagagem. Desta vez vou recheada e levo muito pouco de meu: o entusiasmo da companhia, um guia emprestado por mãos de bem-querer, um dicionário, um mapa que chegou pelo correio, imagens fugazes de uma viagem feita, palavras de quem já deambulou por aqueles lados, a máquina fotográfica esquecida lá por casa e esta frase:

"Peculiar travel suggestions are dancing lessons from God."

20.4.05

a Tua vontade

Que Bento XVI seja, para além da polémica, para além da ortodoxia que Joseph Ratzinger simboliza, de facto, benedictum.

19.4.05

parodoxal, eu?

Sempre gostei de ser surpreendida, nunca achei graça a ser apanhada de surpresa.
(sinto que acabei de descobrir o grande segredo da minha vida.)

diz-me o que lês, dir-te-ei quem és

Quando a leitura deixa de ser só fruição e passa a fazer parte do quotidiano profissional, sinto que tenho uma desculpa e posso respirar fundo e acreditar que ainda há esperança para a minha sanidade mental.
Num micro-universo que não chega a duas semanas, os pratos do dia foram putos a fumar charros como entrada, seguidos por famílias multiproblemáticas, psicologia do adulto e do idoso à sobremesa e uma terapia narrativa da ansiedade a acompanhar o café.
Sou, literalmente, um odre de inconsciente(s).

18.4.05

silly me

dormi mal. tenho frio. vesti-me de preto. estou a fazer coisas chatas desde que acordei. sinto-me incapaz de manter uma conversa com nexo. quero uma montanha, uma casa, uma lareira, uma chávena de chá e amor à discrição.

17.4.05

primeiro pensamento do dia

Depois de uma GRANDE desilusão regeneramos a capacidade de nos deixarmos surpreender outra vez. Parece um efeito lifting e é simplesmente BOM.
(Será que as desilusões fazem bem à pele?)

15.4.05

dúvida existencial

Escrevo menos porque ando feliz?

13.4.05

flower power

Hoje sinto-me pétala.

Menina flor, menina flor, menina flor,
Menina flor, menina flor, menina flor
Mulher, menina flor, amor, primeiro amor,
És o despertar de uma canção
Que adormeceu no coração,
E hoje vê o amor chegar, o amor cantar
Mulher, menina flor, amor, primeiro amor,
És o despertar de uma canção
Que adormeceu no coração,
E hoje vê o amor chegar, o amor cantar

Luiz Bonfá - Stan Getz

12.4.05

boa noite

De cada vez que me acho senhora da verdade sou desarmada.
De cada vez que tenho a presunção de saber tanto aprendo que sei coisa nenhuma.
E sorrio ao pensar que é convosco que vou trilhando os meus passos em volta, na vertigem boa de um trapézio com rede.
Do muito pouco se faz nascer a intimidade que preenche os dias... basta querer, e querer só, às vezes também basta.

7.4.05

amor aos pedaços

Causa-me um certo arrepio na espinha esta dita loja de doçaria amorosa.
Enamoramento via garfada de um chiffon de chocolate ou paixão rodeada de cerejas cristalizadas?
Despedaçam-se batimentos acelerados entre o chantilly que teima em ficar no canto dos lábios e a certeza de um consolo gástrico com duração limitada.

5.4.05

30 anos

Dificilmente juntaria duas pessoas tão diferentes.
Preto/Branco. Pessimismo/Optimismo. Silêncio/Ruído. Medo/Aventura. Baez/Beatles.
Mais dificilmente ainda acreditaria na cumplicidade do gesto, na troca de olhares, nos mimos e gargalhadas diárias.
Muito dificilmente deixarei de acreditar no amor... e a culpa é vossa!

4.4.05

estórias em pijama

Pode ser a t-shirt mais velha da gaveta, umas calças de flanela grossa, de preferência xadrez, ou um conjunto oriental, de seda suave que escorrega na pele.
Há noites infinitamente românticas que pedem bordados e transparências ou o eterno preto. Há os básicos imprescindíveis da women secret e a doçura de um empréstimo seis tamanhos acima do nosso...

2.4.05

escada acima, escada abaixo

Reduzo-me à fragilidade que não gosto de assumir: dormi mal e acordei pior... os joelhos não me têm dado descanso.
Talvez rifá-los...

1.4.05

coisas de outros mundos

Sou, definitivamente, um bichinho de hábitos.
Temos conversado todos os dias.
Temos partilhado inquietações com a leveza de quem ainda está longe de se conhecer.
Tem sido, simplesmente, bom.
Hoje não apareceste... e eu senti a tua falta.

brasil brasileiro

chico_elis_tom_maria rita_caetano_adriana_djavan_marisa_joão gilberto_vinicius_toquinho... chegaram hoje ao meu pc.
E eu passei o dia assim :)

31.3.05

privilégios de ecrã

Bom, bom, era mudar de wallpaper consoante os humores do dia.

asas

As asas feitas de prata de chocolate que me deixaste à cabeceira ofereceram-me o primeiro sorriso da manhã.
Continuo a acreditar em anjos.

30.3.05

eyes wide shut

Deixar-me surpreender. Sem medos. De olhos bem abertos para um dia-a-dia que pode ser tudo o que eu quiser e onde a rotina só entra quando os meus olhos teimam em permanecer fechados.

25.3.05

raízes

Nos próximos dias vou estar aqui...

Serpa, Rua dos Fidalgos (é a primeira porta à esquerda, mesmo em frente à barbearia)

...e prometo que vou tentar regressar com um destes senhores na mala!

cenas

Pronto... confesso... tive um ataque de 'gaijice' aguda e sou a feliz possuidora de riscas tricolores pelo cabelo fora!
Este ano, mudar de visual é o mais aproximado de ressurreição que consigo tirar da cartola... and it's a start!

P.S. - O piercing no nariz ficou outra vez adiado, para gáudio de um senhor que eu cá sei...

24.3.05

pequenos prazeres

- o cheiro da pele no verão
- o ruído do café a subir numa Bialetti
- andar descalça
- a maciez dos lençóis nas minhas pernas nuas
- abrir um livro pela primeira vez
- deixar a areia da praia escoar-se devagarinho pelas mãos
- perder o olhar numa lareira acesa
- comer melancia
- encher os pulmões numa cidade desconhecida
...

23.3.05

22.3.05

elixir matinal

Dias úteis
às vezes pretextos fúteis
pra encontrar felicidades
no percurso de um só dia
Dias úteis
são tão frágeis, as verdades
que se rompem com a aurora
quem as não remendaria?
Dias úteis
mesmo se a dor nos fizer frente
a alegria é de repente
transparente
quem a não receberia?
Mesmo por pretextos fúteis
a alegria é o que nos torna
os dias úteis
Dias raros
aqueles que por amparos
do bom senso e da imprudência
fazem os prazeres do dia
Dias raros
como os ares, Rarefeitos
amores mais do que perfeitos
quem os recomendaria?
Dias raros
em que os mais dados às rotinas
ouvem sinos, seguem sinas
cristalinas
quem as não perseguiria?
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
a alegria é o que nos torna
os dias úteis
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
por motivos talvez claros

Pela voz da Manuela Azevedo a poesia do Sérgio, um lenço azul forte, um sorriso e as tuas palavras.

20.3.05

quando é que se cumpre uma vida?

(inquietação metafísica depois de Mar Adentro e Million Dollar Baby em menos de 24 horas... and still overwhelmed)

o deus das pequenas coisas...

...resolveu entrar de mansinho e deixar-se ficar.
O filme de ontem à noite: imenso na crueza com que se perspectiva a vida.
O choro guardado aí dentro que deixaste vir.
As horas que estivémos no tapete da sala a conversar sobre as nossas vidas, sem rodeios, sem defesas, com a sinceridade boa de quem se dá a conhecer e nem repara que o chá já está frio.

18.3.05

Spice Imperial

Fiquei na dúvida se o devia espalhar pelas minhas gavetas de roupa ou deixá-lo ao acaso lá por casa, com sabor a todas as viagens que ainda não fiz: canela, cravinho, baunilha e laranja numa chávena quente de imagens.
Recomendo!

because it's Friday!!!

Ladeira da preguiça
letra e música: Gilberto Gil (1971)
A voz, essa só mesmo a da Elis!

Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça

Preguiça que eu tive sempre
De escrever para a família
E de mandar contar pra casa
Que esse mundo é uma maravilha
E pra saber se a menina já conta as estrelas
E sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino já canta cantigas
E já não bota mais a mão na barguilha
E pra falar do mundo, falar uma besteira
Formenteira é uma ilha
Onde se chega de barco, mãe
Que nem lá
Na Ilha do Medo
Que nem lá
Na Ilha do Frade
Que nem lá
Na Ilha de Maré
Que nem lá
Salina das Margaridas

Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça

Ela não é de hoje
Ela é desde quando
Se amarrava cachorro com linguiça

17.3.05

crepuscular

dive for dreams
or a slogan may topple you
(trees are their roots
and wind is wind)

trust your heart
if the seas catch fire
(and live by love
though the stars walk backward)

honour the past
but welcome the future
(and dance your death
away at the wedding)

never mind a world
with its villains or heroes
(for god likes girls
and tomorrow and the earth)

E. E. Cummings

16.3.05

...moi non plus

Tu étais la condition sine qua non de ma raison.

Serge Gainsbourg

15.3.05

here comes the sun

Voltei à terra. Para o melhor e para o pior, com a certeza de que o sofrimento me molda o gesto e o olhar.
Andei daqui para ali, para acolá, acreditei na verdade do amor, investi, resisti, insisti? Quem sabe...
Sinto-me profundamente cansada de estar triste e sem norte.
Hoje acordei com sol na janela do meu quarto. Arranquei-me devagarinho da cama e decidi viver.

10.3.05

tiptoeing

baixinho, quase em sussurro, pela vida fora...
há dias em que me sinto bem assim,
há outros em que me apetece desistir.
um dia depois do outro_ um dia depois do outro_um dia depois do outro_
on and on and on and on and on...

8.3.05

terra dos sonhos

se contar até 10 muito devagarinho desaparece a irritação...
se a primeira palavra que escrever neste papel começar por P é porque estou perdida...
se subir as escadas antes do elevador chegar o dia vai correr bem...
se passarem duas músicas do Joshua Tree na rádio arranjo bilhetes para o concerto...
se não tocar em chocolates até ao final do ano ela vai ficar boa...
se fechar os olhos com muita força a dor desaparece...
se na terra dos sonhos nos voltarmos a cruzar, o feitiço quebra-se?
...

7.3.05

detesto domingos

Acordo sempre com a sensação de que estou a começar o fim-de-semana... e é mentira.
A leitura do Expresso já vai a meio e consequentemente, sobra-me para este dia o pior do pior...
Não vale a pena comentar a qualidade dos programas de televisão de domingo à tarde...
Como sempre demasiadas porcarias ao lanche...
Os serões são angustiantes com a visão sahariana da semana que se aproxima...

4.3.05

Twixters

Foi a descoberta do dia - uma palavra nova para uma atitude que conheço bem...
A reportagem completa saiu na Times de 16 de Janeiro e intitula-se:

TWIXTERS -- Grow Up? Not So Fast
Meet the twixters. They're not kids anymore, but they're not adults either. why a new breed of young people won't - or can't - settle down


"It appears to take young people longer to graduate from college, settle into careers and buy their first homes. What are they waiting for? Who are these permanent adolescents, these twentysomething Peter Pans? And why can't they grow up?"
...

"Jeffrey Arnett, a developmental psychologist at the University of Maryland, favors "emerging adulthood"to describe this new demographic group, and the term is the title of his new book on the subject. His theme is that the twixters are misunderstood. It's too easy to write them off as overgrown children, he argues. Rather, he suggests, they're doing important work to get themselves ready for adulthood. "This is the one time of their lives when they're not responsible for anyone else or to anyone else," Arnett says. "So they have this wonderful freedom to really focus on their own lives and work on becoming the kind of person they want to be." In his view, what looks like incessant, hedonistic play is the twixters' way of trying on jobs and partners and personalities and making sure that when they do settle down, they do it the right way, their way. It's not that they don't take adulthood seriously; they take it so seriously, they're spending years carefully choosing the right path into it."
...

"Maybe the twixters are in denial about growing up, but the rest of society is equally in denial about the
twixters. Nobody wants to admit they're here to stay, but that's where all the evidence points."

...

poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos.

Alexandre O'Neill

A minha lista desta semana é ainda menos original:
- medo de adormecer
- medo de sonhar
- medo de acordar
Et voilà!

3.3.05

Glorious Britain

Na instituída terra da snobeira há quem faça de tudo e se sinta bem por isso!
Mudar papel de parede, pintar a casa, lixar o chão, envernizar, arranjar móveis, tratar do jardim, coser à máquina, reinventar funções para as velharias, estofar sofás... vale tudo na moda saudável do Do It Yourself.
Os manuais de DIY enchem prateleiras das livrarias, os programas de televisão com dicas sucedem-se e as pessoas aderem a este conceito tão simples do faça você mesmo.
Esta moda só há pouco começou a chegar a Portugal, muito ao nosso jeito distante de apreciar, achar piada e nunca nos atrevermos a meter as mãos na massa, porque pode não ficar bem ou o que é que os vizinhos vão dizer se me virem de fato-de-treino velho a mudar os rodapés?
Eu, que não passo de uma aprendiz de bricolage e ainda não sou possuidora da minha própria home sweet home, limito-me a investir estoicamente num mísero tapete de esmirna...